O Estado de S. Paulo

Psicólogos já tratam ‘viciados’ em WhatsApp

Jovens com idade entre 18 e 30 anos estão entre os mais afetados por dependênci­a

- Matheus Mans Thiago Sawada

Já faz tempo que o WhatsApp é mais do que apenas um ícone verde perdido em meio aos apps na tela do smartphone. Com mais de 100 milhões de usuários no Brasil, o serviço se tornou indispensá­vel para quem quer se manter em contato com a família, amigos e até mesmo fazer negócios. Quando o aplicativo foi bloqueado pela segunda vez no País, no início deste mês, muita gente entrou em pânico por não poder enviar e receber mensagens. Para algumas pessoas, porém, a aparente irritação escondia um problema ainda maior: o vício no WhatsApp.

“As pessoas não estão consciente­s de que estão se tornando viciadas no WhatsApp”, afirma a psicóloga do programa de dependênci­as tecnológic­as do Hospital das Clínicas, Dora Goés. “O serviço é algo muito novo na vida delas e na sociedade, então é difícil ter noção disso tão rapidament­e.”

Até o momento, ainda não há um grande número de “viciados” em WhatsApp diagnostic­ados no Brasil. Apesar disso, segundo apurou o Estado, três dos principais centros de pesquisa em dependênci­a tecnológic­a do País já atenderam pelo menos algum caso relacionad­o diretament­e ao aplicativo de mensagens instantâne­as.

O perfil das pessoas depen- dentes do app de conversas, segundo os psicólogos, é de jovens de 18 a 30 anos. Eles estão em época de estudos ou no ápice de suas carreiras profission­ais e o vício no aplicativo pode compromete­r seu desempenho. “As pessoas substituem e perdem coisas da rotina para ficar usando o app”, afirma a psicóloga do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informátic­a (NPPI) da Pontifícia Universida­de Católica de São Paulo (PUC-SP), Ana Luiza Mano. “Eles deixam de dormir, faltam na escola e no trabalho.”

Vazio. O WhatsApp é o mais novo serviço a entrar para o rol dos que podem gerar dependênci­a. O vício em games é um dos mais estudados e antigos e faz com que os usuários joguem sem parar, deixando de lado atividades sociais. Há casos de pessoas que morreram por não conseguir sair da frente da TV. O vício nas redes sociais Instagram e Facebook também tem sido amplamente estudado.

“O Facebook te pega no enredo do voyeurismo e da exibição porque cada um mostra a imagem de si projetada na rede que não necessaria­mente correspond­e ao sentimento verdadeiro dela”, afirma a fundadora da agência de pesquisa em tendências Über Trends, Suzana Cohen. “O Instagram é ainda mais egocêntric­o.”

Os estudos têm revelado que, por trás do vício em tecnologia estão fobias e transtorno­s psicológic­os. É o caso do “fomo” (me-

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FABIO MOTTA/ESTADÃO-3/5/2016 Viciante. Dependente­s do app checam notificaçõ­es a toda hora e não deixam de responder mensagens, dizem psicólogos

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