‘Detox’ digital leva usuários para retiro sem internet
Quando o serviço do WhatsApp foi bloqueado no Brasil, não faltaram pessoas que buscaram outros aplicativos de mensagens, como o Telegram e o Messenger do Facebook. Mas, enquanto algumas pessoas não conseguem ficar um dia inteiro sem trocar mensagens, outras buscam certo ‘isolamento digital’ para resistir à tentação de pegar o smartphone sempre que uma notifica-
do de estar perdendo algo, em inglês) e da nomofobia (junção da expressão “no mobile” e fobia, ou seja, medo de ficar sem celular). A dependência da tecnologia quase sempre também está ligada a outros distúrbios psicológicos, como depressão, ansiedade e compulsão. “Esses problemas acabam gerando um ‘vazio’ e as pessoas tentam preen- ção aparece. Para isso, nada melhor do que se instalar em um local distante, com belas colinas, muita vegetação e, o mais importante, sem sinal de internet.
Esta é a ideia do programa de desintoxicação digital oferecido pela agência de pesquisa em tendências Über Trends. De acordo com a coordenadora da iniciativa, Suzana Cohen, a ideia é fazer as pessoas desapegarem de seus dispositivos e renovarem as energias para uma vida offline.
Além de atividades como andar de caiaque, fazer caminhadas e observar as estrelas, o programa oferece cursos teóricos
cher esse ‘buraco’ de maneira exagerada”, diz Ana Luiza.
Não são poucas as pessoas afetadas pelo vício em tecnologias. De acordo com estudo realizado em 2015 pela Flurry, consultoria da empresa de tecnologia Yahoo, 280 milhões de pessoas no mundo são viciadas em aplicativos para celular. A situação é mais grave entre jovens: de conscientização sobre o uso adequado de novas tecnologias e avalia a ‘presença da pessoa no mundo virtual’. “Às vezes a pessoa só publica fotos com o copo na mão e não percebe que muitos podem achar que ela se tornou uma alcoólatra”, diz Suzana.
Embora conte com a participação de profissionais da área de psicologia, o programa não tem a intenção de servir como um tratamento médico. O “detox” digital é voltado para pessoas que começam a perceber que o uso excessivo de tecnologia pode ser a causa de problemas na vida familiar, afetiva e no trabalho.
estudo da Universidade Federal de São Paulo, realizado em 2014 com 274 estudantes entre 13 e 17 anos, mostrou que 68% deles eram dependentes moderados de tecnologia, sendo que 20% eram dependentes graves.
Tratamento. Como muita gente ainda não está ciente de que usa de maneira exagerada o WhatsApp, o número de pessoas que procuram tratamento ainda é mínimo, de acordo com os especialistas. Entre os principais sintomas do vício no app está a necessidade de checar continuamente as notificações e de responder imediatamente as mensagens.
Há diversos tratamentos para a dependência digital: desde um simples “detox” digital ( veja mais no box) ou até mesmo terapia em grupo e com aconselhamento médico. No Hospital das Clínicas, por exemplo, o usuário passa por uma triagem para diagnóstico da dependência em tecnologia. Em caso afirmativo, ele inicia um programa de 18 semanas, no qual psicólogos avaliam a origem e nível do vício.
De acordo com a avaliação, a pessoa pode ser encaminhada para um psiquiatra para tratamento ou, simplesmente, continua no grupo para receber uma educação digital.
“Grande parte da população brasileira usa a tecnologia de forma abusiva”, afirma a psicóloga e fundadora do Instituto Delete, Anna King.