O Estado de S. Paulo

Marcas com ‘causa’ podem cobrar mais

Pesquisa mostra que, ao adotar um propósito convincent­e para sua marca, empresas podem se dar ao luxo de fixar preços mais altos

- Fernando Scheller

Uma pesquisa que ouviu mil consumidor­es brasileiro­s chegou à conclusão de que existem três grupos de marcas. O primeiro é formado por aquelas que costumam gastar muito em propaganda, mas têm uma relação puramente comercial com seus consumidor­es. O segundo é das marcas que conseguem fidelizar e oferecer benefícios claros aos clientes. E o terceiro é aquele que, além de atender bem o consumidor, cria uma relação genuína com ele, geralmente adotando uma causa. As empresas que pertencem ao terceiro grupo têm mais sucesso em convencer os clientes a pagar mais por seus produtos.

Segundo Ana Couto, presidente da Ana Couto Branding, empresa que fez o levantamen­to – que incluiu consultas com consumidor­es e entrevista­s com especialis­tas em marketing –, as respostas demonstrar­am que os clientes estão atentos aos recados das marcas. E sabem diferencia­r movimentos verdadeiro­s do mero discurso.

De acordo com a pesquisa, as empresas do setor de telecomuni­cações ficaram na categoria de relação comercial, em que a disputa pelo cliente se dá principalm­ente no preço. Já marcas consagrada­s do setor de consumo ficaram classifica­das no segundo grupo – em que, além da venda, há êxito na fidelizaçã­o. Na terceira e mais cobiçada coluna ficam principalm­ente marcas dos setores de tecnologia e beleza ( veja quadro).

Para se tornar uma marca com propósito, a pesquisa considera que uma empresa, necessaria­mente, precisa cumprir as funções das duas primeiras categorias – oferecer um produto que o consumidor precise e formar um bom relacionam­ento com ele. Ao tocar a esfera adicional, no entanto, Ana Couto explica que a marca passa a transcende­r os aspectos racionais que guiam uma compra. A especialis­ta diz que, entre os jovens, o aspecto “causa” ganha importânci­a. Entre consumidor­es de 18 a 24 anos, 68% estão dispostos a trocar uma marca tradiciona­l por uma com causa.

A escolha de um propósito, segundo Ana, é importante porque ajuda as marcas a garantirem sua longevidad­e. Ela lembra que a marca líder de hoje pode se tornar irrelevant­e amanhã. “Das empresas presentes na lista das maiores marcas da Forbes, em 1955, só 12% ainda estão no mercado”, diz.

Ao pensar sobre a própria marca, uma das perguntas que uma empresa deve responder é: qual é o problema do consumidor (e do mundo) que meu negócio resolve? Segundo Ana, o surgimento de gigantes globais como Uber e Airbnb – que balançaram os mercados de acomodação e transporte urbano, respectiva­mente – conseguira­m identifica­r ativos que não esta- Relação entre marcas e consumidor­es vam sendo usados e colocá-los à disposição do consumidor.

Entre as empresas brasileira­s, os melhores exemplos de marcas com propósito estão no setor de beleza. Embora a Natura continue sendo referência com sua bandeira de sustentabi­lidade, o levantamen­to mostrou que os vínculos que O Boticário e Avon estabelece­ram com seus consumidor­es, ao falar de beleza, sustentabi­lidade e empoderame­nto feminino, trabalho eficiente de marketing também são relevantes. “O conpossa chamar a atenção para sumidor quer um diálogo com a um determinad­o negócio, ela jamarca, mas não espera mais mais salvará uma empresa que que a empresa seja assistenci­atem uma imagem ruim no merlista, que ela vá salvar o muncado, afirma Jaime Troiano, predo”, explica a executiva. Para ensidente da Troiano Branding. contrar um propósito, basta a “Marketing não é tapume, emmarca estabelece­r um diálogo bora muitas empresas pensem genuíno sobre um assunto releassim. O marketing não serve vante para sua base de clientes. para esconder os problemas de uma empresa, mas sim para revelar suas qualidades.” Propaganda. Por mais que um

Por isso, antes de criar um slogan bonito ou um comercial bem fotografad­o, tanto Ana Couto quanto Troiano dizem que um trabalho de base deve ser feito. “Nada que o departamen­to marketing fizer poderá convencer o consumidor que uma empresa é preocupada com o cliente ou com o mundo se ela é líder de reclamaçõe­s no Procon”, resume Troiano.

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CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO - 5/2/2013 Direção. Setor de beleza concentra marcas com ‘causa’

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