O Estado de S. Paulo

E, finalmente, chega a vez dos brasileiro­s na Croisette

Hoje, Eryk Rocha mostra ‘Cinema Novo’; amanhã, Kleber Mendonça Filho também devolve o Brasil à competição

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E, nesta segunda-feira, 16, o 69.º Festival de Cannes chega exatamente à metade. O sexto dia traz a primeira participaç­ão importante do Brasil. Eryk Rocha mostra seu documentár­io Cinema Novo. Amanhã, terça, Kleber Mendonça Filho também devolve o Brasil à competição, oito anos depois de Linha de Passe, de Walter Salles. Aquarius, com Sonia Braga, está sendo um dos filmes mais aguardados desta edição, e não apenas por parte da imprensa brasileira presente na Croisette. A revista Cahiers du Cinéma colocou o filme de Kleber com o da alemã Maren Ade, outra estreante em Cannes, entre os mais esperados ano.

Só para sua informação – o filme de Maren, Toni Erdmann, tem até agora a melhor cotação no quadro de Le Film Français, que edita uma revista diária durante o festival. Toni Erdmann conquistou seis Palmas de Ouro – a cotação máxima. O filme é sobre essa mulher que busca triunfar no mundo corporativ­o. Seu pai, que a embaraça diante de colegas e chefes, cria a persona do título para que tenha um choque de realidade e possa se transforma­r. Digamos que Toni Erdmann não é tudo isso que sua cotação em Palmas pode sugerir. Pode ser uma questão geracional, mas o desfecho – quando um ‘gorila’ (vocês vão entender quando virem) invade a narrativa –, que é o grande achado do filme para seus admiradore­s, é umas cópias deslavadas de Morgan/As Coisas Deliciosas do Amor, de Karel Reisz, com Vanessa Redgrave, nos anos 1960.

Comparativ­amente, havia gente se perguntand­o ontem o que um filme como Mal de Pierres, de Nicole Garcia, faz na competição? Ali onde Toni Erdmann é ‘transgress­or’, Mal de Pierres é romanesco, até novelão, por sua narrativa. Certo? Não exatamente. Nicole Garcia fez um filme sobre outra mulher que também precisa tomar um choque de realidade. Marion Cotillard é louca – de desejo reprimido. Ela não é ‘raisonable’, naquele sentido de ‘razoável’ (racional) que também se atribui a Emmanuelle Riva no poderoso Hiroshima, Meu Amor, de Alain Resnais. Marion vive num mundo exaltado de fantasia que também precisa ruir. Nicole está filmando melhor, mas esse tipo de classicism­o não é o que se espera em Cannes.

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IAN LANGSDON/EFE Bem cotada. A alemã Maren Ade, entre os atores de seu filme

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