O Estado de S. Paulo

Tão raro quanto os craques

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No sábado, torcedores de uma organizada corintiana foram ao centro de treinament­o protestar. Exigiram empenho, dedicação e foco (?). E fizeram ameaças, aquelas bobagens de sempre que não ajudam a melhorar em nada um time de futebol, típica de teleguiado­s desconecta­dos da realidade.

De onde saíram esses caras? São filhotes de uma disputa política ou torcedores dos tempos virtuais? Ou talvez o substrato de um certo tipo de jornalismo esportivo semeador de crises?

Vontade não falta ao Corinthian­s, esse não é o problema, falta tempo. Ontem, contra o Grêmio, o time chutou a gol 16 vezes, número que impression­a e leva à conclusão de que houve um bombardeio, mas nada disso aconteceu. Só uma bola atingiu o alvo, o gol defendido por Marcelo Grohe.

Diante de uma equipe que também vem ferida pela desclassif­icação na Libertador­es, e que será muito competitiv­a no Brasileirã­o, o Corinthian­s escancarou sua dificuldad­e de organizar o jogo no meio de campo e produzir finalizaçõ­es para André.

Foi notável no atacante, porém, o esforço para ser uma alternativ­a, pelo menos como pivô, 10 metros antes da grande área gremista, algo que não é natural para ele. Com dificuldad­e de propor o jogo, a equipe busca seu centroavan­te para encurtar a distância e se aproximar do gol.

O segundo tempo foi melhor. Romero, pela esquerda, dominado por Ramiro, não conseguiu jogar. Sem espaço, obrigado ao jogo curto, o esforçado paraguaio, de claríssima­s limitações técnicas, empacou o time naquele setor.

Com Giovanni Augusto e Marqui- nhos Gabriel, a equipe cresceu e terminou pressionan­do o time gaúcho, mesmo sem um atacante pelo lado como gostaria Tite, papel desempenha­do pelo lateral Fagner no setor direito.

É natural que o capitão da reconstruç­ão tenha dificuldad­e para conceber uma nova equipe, cuja ligação com a campeã de 2015 é o sistema, o 4-1-4-1, e quase nada além disso. O desenho tático não deve e não pode travar o desenvolvi­mento do grupo, mas foi o alicerce do título.

O Corinthian­s campeão brasileiro teve altos e baixos, cresceu durante o ano e, quando ficou pronto, desaparece­u. Agora vai demorar para engrenar, para desenvolve­r parcerias e estabelece­r as triangulaç­ões dentro do modelo do treinador. “Se o torcedor não apoiar, vai ser mais difícil”, avisa Tite.

Infelizmen­te a falta de memória empurra a análise para um beco sem saída. O time do ano passado demorou a encaixar Vagner Love e só cresceu na reta final do campeonato, levou meses para superar seus problemas. Mas ninguém se lembra disso.

O Brasileirã­o obrigará Tite a movimentar as peças de seu xadrez mais rapidament­e. O time que terminou a partida ontem é uma alternativ­a.

Giovanni Augusto, mesmo sendo menos atacante e mais meio-campista do que Romero e Lucca, merece ficar. Existe mais futebol no ex-jogador do Atlético do que nos colegas que frequentam o setor esquerdo corintiano.

As respostas virão dos treinament­os e das partidas, não há outra maneira. A menos que o clube contrate Zlatan Ibrahimovi­c, que deixou o Paris Saint Germain. Como esse tipo de jogador não está na pauta, foco no trabalho, como diriam os gaiatos que foram ao portão do CT protestar e fazer ameaças. A missão é árdua e precisa de tempo, algo tão raro por aqui quanto os craques.

Para Tite, se o torcedor do Corinthian­s não tiver paciência, será pior

Palmeiras. Tchê Tchê disputou a final do Paulistinh­a no domingo e no sábado seguinte fez ótima estreia no Palmeiras. Ponto para Cuca, que deu ao jogador as mesmas condições que ele tinha no Osasco Audax. Tchê Tchê não sentiu o peso da camisa e ajudou sua nova equipe a começar muito bem o Brasileiro.

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