Diplomacia e modernização
O governo brasileiro mostra disposição de mudar a dip l o maci a c o merc i a l , depois de 1 3 a nos de t e r c e i r omundismo requentado. Mas terá sentido pensar nisso neste momento, quando o discurso antiglobalização ganha importância na campanha eleitoral nos Estados Unidos? A resposta é positiva. A posição do novo governo americano em relação ao comércio internacional só será definida, de fato, depois da eleição. De toda forma, é difícil imaginar um recuo no caso da parceria transpacífico ou mesmo nas negociações de um ambicioso acordo com a União Europeia. Enfim, há argumentos mais que suficientes para defender um novo esquema de integração do Brasil no mercado global, mesmo sem levar em c onta osci l a ç ões da polí t i c a da maior economia do mundo.
O terceiro-mundismo petista, fortemente vinculado à estratégia kirchnerista, foi testado longamente e o resultado foi o previsível. Como poderia esperar qualquer pessoa sensata e razoavelmente informada, o Brasil ficou fora de uma porção de acordos bilaterais e inter-regionais, isolou-se enquanto outras economias buscavam multiplicar seus laços de comércio e ficou limitado a uns poucos pactos com mercados pouco importantes.
Brasil e Argentina perderam o passo na globalização e ficaram para trás, mantendo amarrados o Uruguai e o Paraguai, os outros dois sócios originais do Mercosul. A indústria perdeu peso nas vendas externas brasileiras. A participação dos manufaturados no total das v e ndas e x t e r nas pass ou de mais de 50% para menos de 40% em poucos anos. O setor automobilístico, favorecido internamente por benefícios fiscais e pouco empenhado na competição internacional, acomodou-se no acordo automotivo Brasil-Argentina, um pacto de mediocridade.
A política industrial prometida pelo governo jamais foi além da distribuição de favores tributários e financeiros – principalmente para setores e grupos favoritos – e de medidas protecionistas. A política do componente nacional, anacrônica e indefensável por qualquer critério razoável, foi um custoso fiasco.
O ú l t i mo c a p í t u l o c o nheci d o desse fracasso foi o pedido de recuperação judicial da Sete Brasil. Essa empresa, criada como parte daquela política, resultou em prejuízos de bilhões para seus acionistas, incluídos fundos de pensão de estatais, e em problemas graves para seus credores. Parte importan- te das provisões para devedores contabilizadas por grandes bancos, a começar pela Caixa, é explicável por esse fracasso e pela devastação econômica e financeira da Petrobrás.
O Mercosul acaba de retomar as negociações com a União Europeia, depois de muitos anos de impasse. O entendimento parece hoje mais difícil do que há alguns anos, mas isso se deve principalmente a atrasos causados pela resistência do Mercosul, principalmente do governo argentino, mas também do brasileiro. É necessário, de toda forma, continuar tentando.
A nova diplomacia deve incluir entre suas prioridades a busca de um Mercosul mais dinâmico, menos protecionista e mais voltado para a integração global. Se as dificuldades forem muito sérias, será conveniente abandonar a união a duanei r a e r e t or nar a o s t a t us mais modesto de área de livre-comércio, com cada país livre para negociar com parceiros de fora do bloco.
Ampliar e aprofundar o acordo com o México é uma prioridade óbvia, um objetivo para ser perseguido isoladamente ou com o Mercosul. É preciso aumentar os vínculos com os países da Aliança do Pacífico – Chile, Colômbia, Peru e México – e inscrever no topo da agenda uma integração maior com os Estados Unidos, ainda o principal e mais confiável mercado para a indústria manufatureira do Brasil.
Não há como pensar a política de desenvolvimento e a diplomacia comercial como assuntos separados. Abertura e integração com outros mercados devem ser componentes essenciais da modernização produtiva do Brasil e da busca de eficiência. O resto é anacronismo e retrocesso.