PT cobra Dilma em reunião do Diretório Nacional
Partido avalia que presidente afastada ignorou pedidos para mudar política econômica e pede ‘compromisso público’ sobre seu governo
O PT admitiu ontem ter cometido erros e “equívocos políticos” desde que chegou ao Palácio do Planalto, em 2003, e fez duras cobranças à presidente afastada Dilma Rousseff. Na primeira reunião do Diretório Nacional após o afastamento de Dilma, o partido promoveu um mea-culpa sobre alianças pragmáticas, disse ter virado “refém” de acordos tácitos, sendo “contaminado” pelo financiamento empresarial, mas debitou grande parte dos problemas enfrentados à presidente.
O inventário dos erros, descrito na resolução política aprovada pela cúpula do PT, provocou divergências no encontro e dividiu ainda mais a corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB). Com o apoio de alas mais à esquerda e também da tendência Mensagem ao Partido – a segunda maior força no mosaico ideológico do petismo –, o presidente do PT, Rui Falcão, defendeu a autocrítica.
Integrantes da CNB, corrente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disseram que não era hora de fazer balanço dos erros, mas de concentrar esforços na luta para derrubar o presidente em exercício, Michel Temer. Abatido, Lula alegou cansaço e não compareceu ao encontro.
Após discussões acaloradas, foi aprovado texto que reconhece “equívocos” do partido, mas transfere grande parte da responsabilidade pelo agravamento da crise a Dilma, sob o argumento de que ela ignorou pedidos para mudar a política econômica.
“O Partido dos Trabalhadores propõe que a presidenta Dilma Rousseff apresente rapidamente um compromisso público sobre o rumo de seu governo depois de derrotado o golpismo, defendendo uma ampla reforma política e medidas capazes de retomar o desenvolvimento, a distribuição de renda e a geração de empregos”, diz a resolução.
Embora, em conversas reservadas, petistas considerem remota a chance de Dilma retornar ao Planalto, o documento
Sem preparo traça um cenário prevendo a sua absolvição pelo Senado.
Em quase sete horas de reunião, o PT avaliou ter sido “descuidado” com a necessidade de reformar o Estado e impedir a “sabotagem conservadora” em estruturas de mando da Polícia Federal, alegando que a Operação Lava Jato desempenhou papel crucial na “escalada golpista”. O comando petista afirmou, ainda, que relegou a segundo plano tarefas como as reformas política e tributária e a “democratização” dos meios de comunicação.
“Não estamos pedindo desculpas nem fulanizando avaliações”, disse Falcão. “Erros e acertos são coletivos. Pontuamos como autocrítica, por exemplo, o fato de tardarmos a reconhecer que havia um esgotamento da política de desenvolvimento que imprimimos, a partir de 2003, e que não havia mais espaço para o ganha-ganha”.
Racha. A cúpula do PT autorizou a realização de um encontro extraordinário, em novembro, para continuar a fazer balanço dos erros e um acerto de contas, mas houve nova discussão. Na prática, o temor é de que haja um racha na disputa para a escolha dos delegados ao encontro, o que deixaria clara uma nova