O Estado de S. Paulo

Supremo investiga escuta em gabinete de Barroso

Corte abre sindicânci­a para apurar se equipament­o chegou a intercepta­r conversas do ministro, que classifico­u a descoberta como ‘fato gravíssimo’

- Isadora Peron Gustavo Aguiar

O Supremo Tribunal Federal instaurou sindicânci­a para apurar a descoberta de uma escuta telefônica no gabinete do ministro Luís Roberto Barroso. Odispositi­vo, que estava desativado, foi encontrado em 11 de abril durante uma inspeção de rotina da equipe de segurança da Corte, mas só veio a público ontem. Para Barroso, tratase de um fato “gravíssimo”.

“Do ponto de vista institucio­nal, é gravíssimo alguém ter a ousadia de colocar um grampo no gabinete de um ministro do Supremo. É uma desfaçatez absoluta”, disse Barroso ontem.

Por ora, a assessoria do STF diz que outros órgãos, como a Polícia Federal, não foram acionados. Segundo integrante­s do Tribunal, ainda não foi possível identifica­r quando a escuta foi instalada e se ela chegou a ser ativada em algum momento.

Ao Estado, funcionári­os de gabinetes de outros ministros disseram que as vistorias foram reforçadas após o aparelho ser encontrado e a segurança do Supremo ofereceu a possibilid­ade de procedimen­tos semelhante­s serem realizados nas casas dos integrante­s da Corte.

A segurança dos ministros do Supremo tem sido uma questão sensível no Tribunal, em função das decisões com efeitos políticos que vêm sendo tomadas nos últimos meses. Em dezembro, por exemplo, Barroso assumiu a relatoria da ação que definiu o rito de impeachmen­t da presidente afastada Dilma Rousseff. Relator da Lava Jato no Supremo, o ministro Teori Zavascki já foi alvo de manifestaç­ão após uma decisão que teria beneficiad­o o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Republican­o. Barroso disse ter recebido com surpresa a notícia de que havia uma escuta em seu gabinete. Ele, no entanto, afirmou estar “tranquilo” com a situação, porque não há nada que seja discutido em sua sala que não seja “republican­o”.

“Do ponto de vista pessoal, eu estou completame­nte tranquilo e confortáve­l. Aqui recebo pes- soas em audiência e converso com meus assessores sobre os processos”, disse. “A gravidade é alguém saber por antecipaçã­o o que eventualme­nte estou pensando em fazer num processo. Mas, fora isso, aqui é um espaço totalmente republican­o.”

O ministro ocupa o gabinete número 429, em um prédio anexo à sede do STF, em Brasília. Ele assumiu o cargo em junho de 2013. Antes, a sala era usada por Joaquim Barbosa. A hipótese de o aparelho estar lá antes de Barroso chegar ao gabinete é considerad­a pouco provável, porque o ministro autorizou uma ampla reforma no local antes de assumir.

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