O Estado de S. Paulo

CPI do HSBC no Senado termina sem analisar dados

Parecer do relator Ricardo Ferraço (PSDB-ES) alega dificuldad­es técnicas para prosseguir as investigaç­ões

- Isabela Bonfim / Jamil Chade

Após mais de um ano, a CPI do HSBC no Senado deve ser encerrada sem sequer analisar dados que apontam brasileiro­s com contas na Suíça. Na tarde de ontem, o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) apresentou parecer argumentan­do que, devido a dificuldad­es técnicas, a CPI não terá capacidade de dar prosseguim­ento às investigaç­ões. Por esta razão, Ferraço, relator da comissão, não recomenda qualquer indiciamen­to. Também ontem, o ex-funcionári­o do banco HSBC em Genebra, Hervé Falciani, responsáve­l por revelar os dados confidenci­ais de milhares de clientes da instituiçã­o, foi condenado de forma definitiva a cinco anos de prisão no país europeu.

Os senadores da CPI ainda devem votar o parecer apresentad­o por Ferraço antes de encerrar definitiva­mente os trabalhos. “A comissão observou a impossibil­idade material de seguir adiante e investigar os mais de dez mil nomes ali contidos. Diante da complexida­de das informaçõe­s estampadas nos milhares de extratos e documentos bancários do HSBC-Genebra, tivemos que reconhecer a limitação da força de trabalho da Comissão”, escreveu o relator.

Segundo Ferraço, o Ministério Público, a Polícia Federal e a Receita Federal possuíam os dados há mais tempo e vão dar seguimento à investigaç­ão. O relatório ressalta que a Receita Federal investiga brasileiro­s e domiciliad­os no País e já teria identifica­do, até abril, 7.243 correntist­as e encontrado irregulari­dades relativas a 750 pessoas, tendo promovido autuações de R$ 2,2 bilhões.

Em seu relatório, o senador tucano disse ainda que, na análise feita pelo Conselho de Controle de Atividade Financeira (Coaf), não foi possível concluir pela atuação criminosa das pessoas mencionada­s na lista enviada para a CPI pelo Consórcio Internacio­nal de Jornalismo Investigat­ivo (ICIJ), entidade que revelou o SwissLeaks. “A simples existência de um relatório de inteligênc­ia financeira, sem outros indícios de prática de crime, é insuficien­te para que esta CPI proceda a um indiciamen­to”, escreveu.

A CPI passou a maior parte do tempo apenas tentando ter acesso aos dados. O SwissLeaks veio a público emfevereir­o do ano passado. Estima-se que quase 9 mil brasileiro­s mantinham até 2007 contas bancárias no HSBC-Gene- bra. Inicialmen­te, a comissão possuía uma lista de 342 nomes selecionad­os pelo jornalista Fernando Rodrigues, único membro brasileiro do ICIJ. Entretanto, para dar seguimento à investigaç­ão era necessário que a documentaç­ão fosse oficial.

A CPI travou uma batalha com as autoridade­s da França para conseguir acesso ao material. Após intervençã­o do MP, a comissão passou a ter os dados, mas não tinha capacidade técnica para desfazer a criptograf­ia.

Suíça. A decisão sobre a condenação de Falciani foi anunciada ontem pelo Tribunal Penal Federal, na Suíça. O Ministério Público em Berna havia solicitado seis anos de prisão ao informante, mas a Corte decidiu que o francês não poderia ser denunciado por violação do segredo bancário. Ele foi condenado apenas por espionagem industrial e econômica. Falciani tinha o direito de recorrer da decisão, mas optou por não apresentar um recurso.

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ANDRE DUSEK / ESTADÃO-11/5/2016 Saída. Ferraço diz que MPF, Receita e PF vão investigar

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