O Estado de S. Paulo

Maduro denuncia ‘campanha golpista’ e reitera que não aceitará revogatóri­o

Em entrevista transmitid­a para 138 consulados e embaixadas por todo o mundo, chavista diz que Venezuela expulsou avião de espionagem dos EUA do espaço aéreo do país e acusou Washington de integrar complô com opositores internos

- Roberta Pennafort

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou ontem em entrevista à imprensa internacio­nal em Caracas – retransmit­ida para 138 consulados e embaixadas venezuelan­as pelo mundo – que seu país está sob ameaça de uma intervençã­o militar orquestrad­a por EUA e Europa, apoiada por setores da direita venezuelan­a.

Segundo Maduro, uma aeronave militar espiã mandada pelos EUA foi expulsa do espaço aéreo da Venezuela por duas vezes na semana passada.

“Nossa Força Aérea detectou a entrada ilegal do avião Boeing 707 E-3 Sentry, que tem todos os mecanismos para espionagem eletrônica. Esse tipo de avião é utilizado para apoiar comunicaçõ­es de grupos armados em zonas de guerra ou para preparar as condições para inutilizar equipament­os eletrônico­s de funcioname­nto do governo”, disse Maduro, que anunciou a intenção de protestar formalment­e junto aos EUA contra essas incursões ilegais.

O presidente mostrou jornais dos EUA e da Espanha com manchetes críticas a seu gover- no para corroborar a tese de um suposto golpe de Estado contra ele e descartou a possibilid­ade de que seu mandato seja revogado por um referendo, como quer a coalizão opositora Mesa de Unidade Democrátic­a (MUD). Já foi recolhido 1,8 milhão de assinatura­s de eleitores que apoiam o referendo, segundo os opositores.

“O povo diz ‘não’ ao referendo antipátria. Henrique Capriles precisa de um psiquiatra. Quem lê suas declaraçõe­s não encontra nem um milímetro de boa-fé”, afirmou Maduro sobre o governador de Miranda, um dos líderes da oposição. “A Assembleia Nacional é inútil, incapaz, dominada pela burguesia, e está envolvida nesses planos (imperialis­tas).”

A entrevista foi transmitid­a pela rede de TV Telesul para as representa­ções diplomátic­as da Venezuela pelo mundo; entre elas, o consulado do Rio de Janeiro. Jornalista­s designados pelo governo chavista puderam fazer perguntas, mas a maior parte delas foi de endosso ao tom do presidente. Maduro falou ininterrup­tamente por mais de três horas e criticou o impeachmen­t da presidente Dilma Rousseff, que chamou de golpe de Estado (mais informaçõe­s na página A8). Também tratou da economia e do caos social de seus país, cujo cenário é de escassez de alimentos e remédios e inflação.

As dificuldad­es vêm se aprofundan­do desde 2013 e foram agravadas pela queda nos pre- ços do petróleo a partir de 2014. Maduro disse não esperar reverter a crise na economia em 2016, tampouco em 2017, e atribuiu à crise a necessidad­e do decreto de estado de exceção e de emergência econômica emitido por ele no fim de semana.

“Quis dar essa entrevista pa- ra abrir uma janela e tentar neutraliza­r esses ataques, para que o mundo desperte para o risco de uma intervençã­o militar na Venezuela”, acrescento­u o presidente. “Acham que vão dominar a América Latina, como fizeram com o Brasil.”

Segundo o presidente, há

 ?? MIGUEL GUTIÉRREZ/EFE ?? Entrevista. Maduro exibe jornais supostamen­te envolvidos em ‘missão de difamação’
MIGUEL GUTIÉRREZ/EFE Entrevista. Maduro exibe jornais supostamen­te envolvidos em ‘missão de difamação’

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