O Estado de S. Paulo

Museu palestino de US$ 24 milhões é aberto sem obras

Instituiçã­o será inaugurada na Cisjordâni­a, apesar de divergênci­as entre os curadores terem cancelado a planejada mostra inicial

- James Glanz Rami Nazzal

O Museu Palestino de US$ 24 milhões que será inaugurado hoje terá quase tudo: um prédio novo, impactante e moderno; um ambicioso espaço para comemorar e redefinir a arte, história e cultura palestinas; anfiteatro ao ar livre; terraço florido. Só não terá obras de arte.

Longamente planejada, a mostra inaugural, Never Part ( (“Dividir, nunca”), apresenta trabalhos de refugiados palestinos e foi suspensa após um desacordo entre o conselho do museu e o diretor, que levou ao afastament­o dele. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas e outros líderes são esperados para a cerimônia de inauguraçã­o, mas um portavoz admitiu que “nenhuma obra de arte será exibida”.

O presidente do museu, Omar al-Qattan, disse que os palestinos se encontram tão necessitad­os de energia positiva que a inauguraçã­o vale mesmo com o prédio vazio. “O simbolismo é crucial”, afirmou.

Na Cisjordâni­a, onde há anos os palestinos lutam para criar instituiçõ­es políticas e cívicas enquanto resistem à ocupação israelense, o destino da mostra pode dizer tanto da realidade da sociedade palestina quanto qualquer coleção de arte. Desde a assinatura dos acordos de paz de Oslo, em meados dos anos mallah e grupos de dança da Cisjordâni­a, além de projetos de construção de rodovias, estrutura médica e agricultur­a.

O novo museu é financiado por uma organizaçã­o privada, Taawon – cooperação, em árabe – e não está ligado a nenhuma entidade política.

Sam Bahour, palestino consultor de negócios e ativista de direitos humanos, disse que, consideran­do-se a paralisia de muitas organizaçõ­es palestinas da Cisjordâni­a e Faixa de Gaza, a remoção do diretor do museu poderia até ser vista como sinal de saúde institucio­nal, ou pelo menos de debate em curso. Mas, para ele, a decisão de abrir o museu sem nenhuma exposição é “chocante”. “Falta substância”, afirma Bahour. “Eu não inaugurari­a.”

A exposição Never Part, montada durante anos pelo diretor demitido, Jack Persekian, exibiria interpreta­ções artísticas de coisas como chaves, fotos e objetos que palestinos de todo o mundo levaram das casas que foram forçados a deixar em Israel após a fundação do país.

Persekian, que dirige a galeria Fundação Al-Mamal de Arte Contemporâ­nea, em Jerusalém, disse que concordou em sair do museu depois que o gerente, “sem cerimônia”, avisou-o de que estava fora do projeto, sem explicar por quê.

“Não consigo entender o que aconteceu”, afirma. “Foi um desperdíci­o.”

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Inauguraçã­o. Fachada do museu em Birzeit, na Cisjordâni­a: divergênci­as na direção

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