O Estado de S. Paulo

Motoristas de ônibus param hoje por 2 horas; subsídio só dura até setembro

- Bruno Ribeiro

A verba reservada no orçamento da capital paulista para este ano será suficiente para manter o subsídio às empresas de ônibus apenas até o fim de setembro, se mantido o ritmo atual de gastos com a área. Até ontem, a Prefeitura já havia gastado R$ 914 milhões em subsídios ao sistema de transporte­s, mais da metade da verba de R$ 1,8 bilhão prevista para este ano. Em campanha salarial e com proposta que não repõe a inflação, motoristas e cobradores marcaram paralisaçã­o de duas horas hoje, das 10 horas ao meio-dia.

A greve deve atingir todos os terminais e corredores, segundo o Sindicato dos Motoristas e Trabalhado­res do Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo (Sindmotori­stas). Se as em- presas de ônibus não apresentar­em outra proposta, há indicativo de paralisaçã­o também para amanhã, no mesmo horário. O sindicato que representa as empresas (SPUrbanuss) não foi localizado para comentar a greve. A Prefeitura não respondeu.

Os motoristas e cobradores pedem reposição da inflação e aumento real de 5%. Segundo o sindicato, as empresas ofereceram aumento de 2,31%, abaixo da inflação, e pretendem demitir cobradores de ônibus. Uma paralisaçã­o total pode acontecer na próxima semana, segundo informaçõe­s do Sindmotori­stas.

Gastos. A disparada dos gastos com subsídios do sistema de transporte­s é resultado das mudanças na política tarifária tocadas pela gestão Fernando Haddad (PT), que passou a conceder passe livre para estudan- tes e o bilhete único mensal, que dá desconto em relação ao preço do bilhete comum. As alterações tornaram a passagem mais barata para quem já usava transporte coletivo, mas falharam na proposta de atrair mais passageiro­s para o sistema. No mês passado, por exemplo, foram feitas 245 milhões de viagens nos ônibus da cidade, ante 258 milhões em março do ano passado, segundo dados da Prefeitura.

Para que o dinheiro não acabe antes do fim do ano, a gestão Haddad espera ainda obter autorizaçã­o do Tribunal de Contas do Município (TCM) para fazer a nova licitação do sistema de transpores, paralisada há cinco meses por uma série de questionam­entos. A contrataçã­o de novas empresas, com novas regras, traria uma economia de até 15% por mês, segundo a Prefeitura.

O atraso na licitação faz com que a cidade opere, atualmente, de forma precária, por meio de contratos emergencia­is. Além do custo maior do que o previsto, a operação regida por esses contratos também está tornando a frota de ônibus mais velha. Isso ocorre porque, como esses contratos têm curto prazo de duração (vão no máximo até o fim do ano, embora possam ser renovados), as empresas têm tido dificuldad­e de obter linhas de crédito para financiar a compra de novos veículos.

Assim, a frota hoje tem a idade média mais alta dos últimos 13 anos. Isso considera o período desde que o sistema de transporte foi unificado: 5 anos e 8 meses, no caso dos ônibus, e 4 anos e 10 meses nos lotações.

TCM. A licitação que a Prefeitura tentou lançar previa prazo de concessão de até 40 anos (20, renováveis por mais 20). A primeira análise dos técnicos do TCM apontou 49 irregulari­dades no texto – de falta de apresentaç­ão de estudos que norteavam parte das premissas a estimativa­s de custos que foram superestim­adas.

Depois de uma série de análises do órgão e esclarecim­entos prestados pela Prefeitura, o total de irregulari­dades, atualmente, é de 20 itens. São questões técnicas, em geral relacionad­as ao não cumpriment­o da legislação de licitações. O Estado teve acesso ao processo. São 28 pastas de docu- mentos, com cada um dos questionam­entos detalhado. Não há prazo para que a licitação seja liberada.

O advogado Thiago Donnini, especialis­ta em Direto administra­tivo e professor do Instituto Brasileiro de Educação em Gestão Pública (IBEGESP), destaca que a realização de contratos emergencia­is não constitui ilegalidad­e. E são a forma correta de lidar com situações como a que acontece na cidade. Ele destaca, entretanto, que a Prefeitura deveria buscar formas de garantir a aprovação de suas propostas no TCM de uma maneira mais entrosada com o órgão.

“Um exemplo é o Tribunal de Contas da União. O governo federal busca aproximaçã­o do TCU para que o órgão examine os processo de licitação desde sua concepção, o que resulta em uma aprovação mais ‘azeitada’.”

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