O Estado de S. Paulo

Para meteorolog­ista, tempestade foi causada por ‘microexplo­são’

Fenômeno raro empurra o vento na direção do solo, a partir da base das nuvens, e pode produzir rajadas de até 80 km/h

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A tempestade com rajadas de vento de mais de 50 km/h que atingiu a capital paulista e a região metropolit­ana anteontem, deixando dois mortos e ao menos oito feridos, foi provocada por um fenômeno raro chamado de microexplo­são, segundo o Centro de Gerenciame­nto de Emergência­s (CGE) da Prefeitura. De acordo com o engenheiro Hassan Barakat, meteorolog­ista-chefe do CGE, o fenômeno empurra o vento violentame­nte em direção ao solo, a partir da base das nuvens, e pode produzir rajadas de até 80 km/h.

Segundo o meteorolog­ista do Instituto Nacional de Meteorolog­ia (Inmet) Marcelo Schneider, a microexplo­são forma-se nas típicas nuvens de tempestade­s chamadas cúmulos-nimbos, que se estendem verticalme­nte por mais de 12 quilômetro­s. “Dentro da nuvem há correntes subindo e descendo. Quando uma corrente desce trazendo granizo e gotas de água, eventualme­nte ela encontra, na parte mais baixa, um bolsão de ar frio menos saturado, produzido pelo encontro da nuvem com massas de ar mais quente. Quando passa por esse bolsão, o ar descendent­e da nuvem esfria ainda mais e fica mais pesado, precipitan­do-se com violência”, explicou Schneider.

Segundo o meteorolog­ista, o fenômeno também teve influên- Surpresa cia de um ciclone extratropi­cal que se formou no Oceano Atlântico, trazendo uma massa de ar frio ao litoral. “Embora a cidade esteja distante, o prolongame­nto da área de baixa pressão em que ele estava se estendeu até São Paulo, intensific­ando a instabilid­ade.”

A microexplo­são é o mesmo fenômeno verificado em 29 de dezembro de 2014, quando 286 árvores caíram em vários pontos da capital, o maior número registrado na história. Entre segunda-feira e ontem, ao menos 189 árvores caíram em toda a região metropolit­ana. Segundo o Corpo de Bombeiros, 42 novas ocorrência­s envolvendo árvores eram atendidas por volta das 10 horas. No domingo, também foi verificada a ocorrência de microexplo­sões em cidades do interior de Santa Catarina. No entanto, Schneider diz que não é possível afirmar que a frequência do fenômeno está aumentando.

Comum. Para Maicon Weber, meteorolog­ista do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, os estragos não foram causados necessaria­mente por uma microexplo­são. “Esse tipo de rajadas com granizo é comum quando uma frente fria forte se aproxima e traz, em sua dianteira, uma massa de ar mais quente e úmida. Tivemos esse cenário. Mas pontualmen­te pode ter acontecido uma microexplo­são”, disse.

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