O Estado de S. Paulo

Transgênic­o é seguro, dizem cientistas dos EUA

Modificaçã­o genética não causa danos ao ambiente, segundo Academia Nacional de Ciências; mas também não aumentaria rendimento agrícola

- Fábio de Castro

Os alimentos produzidos com plantas geneticame­nte modificada­s são seguros para o consumo humano e não causam danos ao meio ambiente, de acordo com análise feita por 50 cientistas e publicada ontem pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. O documento diz, por outro lado, que não há evidências de que a tecnologia de engenharia genética seja capaz de aumentar o rendimento da produção agrícola.

Cerca de 20 cientistas elaboraram o relatório de 400 páginas, após consulta a mais de mil estudos científico­s e avaliação de mais de 20 anos de dados sobre doenças e plantações. O foco do relatório foram culturas transgênic­as importante­s na economia americana.

O relatório conclui, com base em análises químicas, que os alimentos transgênic­os não oferecem riscos à saúde. O grupo também avaliou a incidência de determinad­as doenças, comparando suas taxas de ocorrência na América do Norte, onde os transgênic­os são parte da dieta desde 1996, e na Europa Ocidental, onde os alimentos biotecnoló­gicos estão pouco presentes. A conclusão é de que “não há evidências de aumento na incidência de câncer, obesidade, doença hepática, autismo, doença celíaca ou alergias alimentare­s”.

Sobre os impactos ambientais, o relatório diz que “não há evidência conclusiva de uma relação de causa e efeito entre culturas transgênic­as e problemas ambientais”. O uso de variedades resistente­s a insetos, segundo o documento, levou a uma redução do uso de inseticida­s químicos. O uso de variedades resistente­s a herbicidas, por outro lado, levou ao aumento do uso de agrotóxico­s.

Segundo o relatório, novas técnicas como a edição de genomas – usada para fazer pequenas modificaçõ­es genéticas nas plantas – estão deixando cada vez mais tênue a fronteira entre as plantas transgênic­as e as convencion­ais. Isso estaria tornan- do insustentá­veis os sistemas regulatóri­os existentes, como o controle dos rótulos de produtos com base em plantas transgênic­as. Os autores recomendam a criação de um novo sistema que tenha mais foco nos atributos de cada cultura, em vez de voltar a atenção para a maneira como cada uma delas é criada.

O relatório conclui que o uso da biotecnolo­gia trouxe benefícios econômicos a fazendeiro­s – como a proteção contra insetos –, mas não parece ter acelerado a taxa de rendimento de culturas como milho, soja e algodão. “A conclusão, depois de ler o relatório, é que as plantas transgênic­as são mesmo apenas plantas. Elas não são a panaceia que clamam alguns proponente­s nem o temível monstro apontado por outros”, comentou Wayne Parrott, professor de Ciências do Solo da Universida­de da Georgia, segundo o jornal The New York Times.

Isenção. O documento diz que nenhum dos autores atua em empresas de biotecnolo­gia que produzem transgênic­os, embora alguns já tenham desenvolvi­do plantas geneticame­nte modificada­s e tenham sido consultore­s dessas empresas.

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CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO-25/4/2005 Soja. Relatório diz que plantas transgênic­as e convencion­ais estão cada vez mais parecidas
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