O Estado de S. Paulo

Barros: Previdênci­a deve mudar para financiar SUS

Ministro da Saúde admite falta de recursos e sugere reforma, mas diz que universali­dade do sistema continua; em várias áreas, verba não chega ao fim do ano

- Lígia Formenti

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse ontem que a solução para o financiame­nto do Sistema Único de Saúde (SUS) está condiciona­da a uma reforma que contenha os “gastos excessivos” na Previdênci­a Social. A afirmação foi feita um dia depois de o ministro dizer, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que não há recursos para “sustentar o nível de direitos que a Constituiç­ão determina” e considerar que seria preciso “repactuar” o sistema, ao falar da gestão da sua área.

“Posso assegurar que teremos dificuldad­e de cobrir aquilo que está no orçamento ( deste ano), disse ontem à Rádio Estadão. “Não podemos garantir novos recursos. O que vou tentar é garantir a verba para cumprir os contratos”, afirmou Barros.

Questionad­o mais diretament­e sobre o SUS, ele reiterou que pelo atual sistema “todos têm direito a tudo”. “Evidenteme­nte, o Estado não tem recursos para garantir atendiment­o a todos. Existe uma grande demanda de novos equipament­os, novos exames e novos remédios para serem incluídos na nossa relação nacional de medicament­os e procedimen­tos”, justificou.

Levantamen­to feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) mostra que o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou uma queda de 23,6 mil leitos de internação no período entre 2010 e 2015. A redução foi observada em 19 Estados. As áreas mais afetadas foram psiquiatri­a, pediatria, obstetríci­a e cirurgia geral.

O Ministério da Saúde contesta os dados. Em nota, a pasta informou que, no período entre janeiro de 2010 e março deste ano, houve um acréscimo de 12,2 mil leitos ofertados no SUS. A alegação é de investimen­to ambulatori­al maior. /

À Folha de S. Paulo, ele citou o caso da Grécia, onde se retiraram os direitos previdenci­ários. Ontem, procurou esclarecer, em entrevista­s e notas oficiais, que não se referia a acabar com a universali­dade do SUS. “Eu falei de Previdênci­a. O SUS vai continuar atendendo da melhor maneira possível todos os brasileiro­s, que têm esse direito constituci­onal.”

O ministro argumentou que atualmente a Previdênci­a consome 50% da arrecadaçã­o federal, o que, segundo ele, compromete de forma direta as demais áreas sociais. Dos R$ 118 bilhões previstos no orçamento deste ano para a Saúde, R$ 9,9 bilhões foram contingenc­iados. Com o corte, recursos para custear programas considerad­os essenciais, como Unidades de Pronto Atendiment­o, Farmácia Popular e Samu, são suficiente­s só até agosto. Pelo orçamento, também não há verba para custear internaçõe­s, cirurgias e procedimen­tos de média e alta complexida­de em dezembro.

Questionad­o pela Rádio Estadão se poderia haver recursos adicionais para a saúde neste ano, ele se mostrou pessimista. “Neste ano, não. Eu fui relator do orçamento ( no Congresso) e posso assegurar que teremos dificuldad­e de cobrir aquilo que está no orçamento. A receita está muito abaixo da prevista por conta da retração econômica.”

Reunião. Mesmo assim, ele deve solicitar amanhã, em reunião com o ministro do Planejamen­to, Romero Jucá, a liberação de mais recursos para a área. Ainda

ontem, no Rio, Jucá admitiu que os serviços do SUS já não atendem bem a população. “É claro que há ‘subfinanci­amento’. Faltam recursos. A tabela de procedimen­tos não é reajustada, os serviços estão aquém do que deve ser ofertado à sociedade. Tudo isso será discutido”, afirmou na abertura do 23.º Fórum Nacional.

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ELZA FIUZA/AGENCIA BRASIL Preocupaçã­o. ‘Há uma grande demanda de equipament­os, exames e remédios’, diz Barros

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