E tome decisão!
Decisões são desafios mais recorrentes da vida, e na maior parte das vezes passam despercebidas. Estamos sempre a decidir algo: a hora de levantar, que roupa vestir, o que tomar no café da manhã; como serão almoço e jantar; que caminho traçar para o trabalho; que alternativas de trânsito para voltar para casa. Infinitas as escolhas. O jornalista peleja pra definir as palavras para usar na crônica.
No futebol, as decisões também são rotina – e não se limitam às tradicionais finais de campeonato. Hoje, por exemplo, haverá uma decisão para São Paulo e Atlético-MG. Um dos dois restará na corrida pelo títu- lo da Libertadores. O outro passará a concentrar-se só no Brasileiro.
O destino será desenhado em noventa minutos ou, no máximo, virá por meio dos pênaltis. Sem meio-termo, só ficará um do quinteto brasileiro que se classificou para a competição continental. Palmeiras, Corinthians e Grêmio aguardam companhia. Aquele que sobrar será “o Brasil na Libertadores”. (Não, não, essa expressão é clichê mais falso do que parceria política.)
A realidade mostra vantagem tricolor, pelo 1 a 0 de sete dias atrás. Fato concreto, inegável. Ainda assim, relativo. Não é diferença tão acentuada quanto aquela diante do Toluca; nas oitavas, a turma de Edgardo Bauza le- vou pro México 4 a 0 na bagagem. Folga enorme, que não fez nem cócegas com os 3 a 1 em favor dos mexicanos.
Agora, é diferente. O Galo tem condições de desfazer o nó – e mostrou capacidade de reação na história recente, na conquista da Copa do Brasil de 2014, com viradas sobre Corinthians e Fla. Não há por que jogar a toalha.
O peso da vantagem será atribuído pelo comportamento dos times. E eis aí, de novo, que aparece uma decisão. Para Diego Aguirre, qual a estratégia adotar para superar o obstáculo, sem correr grandes riscos – levar um gol, para citar hipótese viável. Para Bauza, como segurar a pressão e, eventualmente, se beneficiar dela e ter tempo ou contragolpes – ou ambos – a favor.
Esse é o panorama prévio, talvez óbvio. Espera-se o Atlético no ataque, a pressionar, sufocar, empurrar, fechar espaços e testar pontaria à menor brecha. Assim como se aguarda o São Paulo compacto, duro, atento, com o “regulamento embaixo do braço”, para citar outro lugar-comum do esporte.
Quem garante que Bauza não opte pelo atrevimento, uma vez que não é isso que se imagina da parte são-paulina. E, calejado nas artimanhas da Libertadores, o argentino até estimula contradições, porque contribuem para confundir o oponente. Ou porque ele de fato as tenha. Vai saber? Tudo é possível. A arte de iludir o ajudou nos títulos conquistados com LDU e San Lorenzo que, convenhamos, são nanicos comparados ao São Paulo.
O dilema sumirá com o apito inicial. Certeza está na possibilidade de Bauza contar com força total. Salvo surpresa de última hora, a aposta recai sobre o time que tem jogado as partidas complicadas. O centro nevrálgico está no meio-campo, no qual Hudson, Thiago Mendes, Kelvin, Ganso e agora Michel Bastos têm preferência. Na frente, bolas para Calleri. Não há como fugir da tendência de fechar espaços e acelerar com Kelvin, Michel e os passes de Ganso.
O São Paulo saiu da condição de quase desclassificado, após a estreia desastrosa (derrota em casa para The Strongest), para a de atropelador de favoritos. Manterá a fama? Saberemos por volta da meia-noite.
Tocha apagada. Wlamir Marques é um ícone da era de ouro do basquete brasileiro, entre os anos 50 e 60. Hoje, é professor e comentarista de primeira grandeza. Pois bem. Wlamir revelou que COB e Prefeitura de São Paulo o convidaram para participar do revezamento da tocha olímpica. Mas um dos patrocinadores, em e-mail no mínimo deselegante, disse que o nome dele estava “sob análise”. Diante disso, Wlamir desistiu. Enquanto isso, duplas sertanejas, socialites, parentes de políticos passeiam com o símbolo dos Jogos.
E lá vai o São Paulo, mais uma vez e com vantagem, decidir o caminho dele na Libertadores