O Estado de S. Paulo

Falta a prova do pudim

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Se essa equipe econômica do governo em exercício falhar, não será por falta de qualificaç­ão de seus membros. Henrique Meirelles na Fazenda, Ilan Goldfajn no Banco Central (BC), Carlos Hamilton Vasconcelo­s na Secretaria de Política Econômica e Mansueto Almeida na Secretaria de Acompanham­ento Econômico formam um quadrado ideal, capaz de despertar a confiança dos agentes econômicos. É gente com pé no chão, de grande capacidade de diagnóstic­o e altamente capaz de encontrar as saídas técnicas adequadas. Falta agora a prova do pudim (comê-lo), que será sua capacidade de mobilizar a área política para a promoção das mudanças.

Meirelles avisou que pretende garantir autonomia ao BC, não apenas no fio de bigode, como era no tempo dele, mas também por meio de garantia legal.

A principal falha da administra­ção Tombini foi ter sofrido intervençã­o demais do governo, tanto do ministro da Fazenda, Guido Mantega, como da própria presidente Dilma. Em 2011 foi obrigado a derrubar prematuram­ente os juros. E, logo em seguida, teve de coadjuvar nas pedaladas, tanto por não contabiliz­ar como dívida os créditos ao Tesouro repassados sem autorizaçã­o do Legislativ­o pela Caixa Econômica Federal e pelo BNDES quanto por não exercer adequadame­nte seu dever de supervisão sobre esses bancos.

Em todo esse período, o BC foi excessivam­ente tolerante em relação à política fiscal permissiva do governo, não propriamen­te por não se ter oposto a ela, mas por reafirmar explicitam­ente, meses a fio, que a administra­ção das contas públicas não vinha prejudican­do o combate à inflação.

A plena autonomia do BC é uma exigência da própria natureza do exercício do poder. Os políticos sempre querem gastar. Se depender apenas deles, a impressora não para de rodar. E, se está sujeito a pressões do governo, como aconteceu ao longo da administra- ção Dilma, o BC perde capacidade de operar a política monetária (política de juros), porque o governo quer sempre fartura de recursos. Daí a necessidad­e de blindar a diretoria da instituiçã­o contra interferên­cias nocivas à sua função na sociedade.

Para que o BC obtenha plena autonomia (independên­cia formal) será preciso que seus diretores tenham mandato por um período fixo, preferenci­almente não coincident­e com o do presidente da República. E que só possam ser demitidos em caso de falta grave.

Quem é contra a independên­cia do BC, em geral, quer submeter tanto a política de juros como a política de câmbio aos objetivos imediatos do governo. Quando isso acontece, as distorções vêm a galope. É a inflação que corre solta e é a política cambial que se transforma em instrument­o de doping na economia, fator que aumenta o consumo sem aumentar a produção.

A regulament­ação de todo o sistema financeiro onde se inclui o regime de funcioname­nto do BC está prevista no artigo 192 da Constituiç­ão de 1988. Mas até agora não saiu. Sua aprovação exigirá um Projeto de Emenda à Constituiç­ão (há vários em tramitação) que terá de passar pela Câmara e pelo Senado em dois turnos, com aprovação de pelo menos três quintos dos parlamenta­res, o que não é fácil. Aí está um sinal da reação do mercado à nova administra­ção Temer. As cotações do dólar se mantêm relativame­nte estáveis, com baixa intervençã­o do Banco Central.

A Lava Jato e o PT No texto preliminar destinado a fazer uma autocrític­a da gestão Dilma, a direção do PT entendeu que “a Operação Lava Jato desempenho­u papel crucial na escalada golpista”, ou seja, no afastament­o da presidente. E, no entanto, a presidente Dilma repetia que foi graças a seu governo que o Ministério Público e a Polícia Federal passaram a combater a corrupção...

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Economia. Sob nova direção
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