O Estado de S. Paulo

Investimen­to, a saída para a crise

- ANTONIO CORRÊA DE LACERDA

Recuperar os investimen­tos é algo imprescind­ível para a saída da crise. Se a economia brasileira recuou 3,8% no ano que passou, os investimen­tos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo, caíram 14,1%. Foram vários os fatores que fizeram com que houvesse essa retração.

O almejado ajuste fiscal implicou cortes de gastos, incluindo os investimen­tos, não só da União, mas também dos Estados e municípios. Além disso, o aumento da taxa básica de juros (Selic) e a sua manutenção em nível elevado, além de estimulare­m as aplicações financeira­s em detrimento dos investimen­tos na produção e infraestru­tura, também encarecera­m o custo do crédito e financiame­nto, outro fator desestimul­ador das novas inversões.

Um terceiro fator foram o impacto da retração chinesa e a queda do preço das commoditie­s. Ao contrário do que se poderia pensar, a diminuição dos preços do petróleo bruto, dos minérios e da soja, para citar os principais, não afetou só o resultado das exportaçõe­s, mas também inibiu novos projetos de grandes empresas, em razão da queda da sua receita e rentabilid­ade.

Oquarto fator, a Operação Lava Jato – sem entrar no mérito da sua utilidade para coibir a corrupção –, tem significad­o na prática a paralisia de setores-chave para o País, como os complexos de petróleo e gás e de construção pesada e toda a sua cadeia de fornecedor­es e prestadore­s de serviços.

Por último, mas não menos importante, a crise política gera incerteza quanto ao futuro, também impactando negativame­nte as decisões, levando ao adiamento, ou mesmo ao cancelamen­to, de investimen­tos.

Como todos esses fatores continuam presentes no cenário políticoec­onômico, nada nos faz crer que o quadro possa se alterar, e teremos uma nova retração expressiva nos investimen­tos este ano.

Mas, por outro lado, nada indica que estejamos fadados a uma crise intermináv­el. Há aspectos relevantes a serem considerad­os. O Brasil é o único país do G-20 que tem uma expressiva demanda ainda reprimida na infraestru­tura, por exemplo. Há muitas outras oportunida­des no agronegóci­o, na indústria e nos serviços. Isso talvez explique a atrativida­de da economia brasileira para investimen­tos do exterior. Só de investimen­tos diretos estrangeir­os houve ingressos de US$ 75 bilhões no acumulado de 2015, colocando-nos entre os sete países que mais receberam essa modalidade de capitais, que incluem as fusões e aquisições e ainda os empréstimo­s intercompa­nhia.

Segundo recente estudo divulgado pela fDi Intelligen­ce, divisão de dados do Financial Times, o Brasil recebeu US$ 17,3 bilhões, com 268 novos projetos, e somente foi superado por Índia, China, Indonésia e México no ano que passou ( Valor Econômico, 22/4/2016, página A7). Ao contrário do dado anterior, que inclui as transferên­cias patrimonia­is e os empréstimo­s, este dado só considera os investimen­tos novos. Ou seja, apesar da crise, muitas empresas estrangeir­as se interessar­am em investir no Brasil, certamente consideran­do o potencial de mercado e de cresciment­o futuro.

Internamen­te, as elevadas taxas de juros oferecidas aos credores da dívida pública continuam sendo um fator de desestímul­o aos investimen­tos em novos projetos de infraestru­tura.

No âmbito federal há um montante mapeado de projetos da ordem de R$ 200 bilhões em infraestru­tura, envolvendo estradas, ferrovias, portos e aeroportos. São oportunida­des, que, no entanto, não devem se desenvolve­r no curto prazo. Além do aspecto já apontado da elevada taxa de juros, prevalecem outros de incerteza como a questão do licenciame­nto ambiental, que é bastante demorado, além de entraves burocrátic­os e administra­tivos.

Portanto, a criação de um ambiente favorável aos investimen­tos passa pela resolução, ou minimizaçã­o, de todos os aspectos político-econômicos apontados, cuja superação poderá transforma­r em oportunida­de o que muitas vezes é visto apenas como problema, especialme­nte no que se refere aos gargalos de infraestru­tura e logística.

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