O Estado de S. Paulo

Ilan Goldfajn terá ‘autonomia técnica’ no Banco Central

Na prática, significa que decisões da diretoria do BC não podem ser contestada­s; todos os diretores do banco terão foro privilegia­do

- Murilo Rodrigues Alves Adriana Fernandes

Para compensar a perda de status de ministro do presidente do Banco Central, o governo Michel Temer vai propor “autonomia técnica” da instituiçã­o, o que significa que as decisões da diretoria não poderão ser questionad­as. Ilan Goldfajn, indicado ontem pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para assumir o comando do banco, e todos os diretores da instituiçã­o devem ter foro privilegia­do.

As duas mudanças estarão em uma proposta de emenda à Constituiç­ão (PEC), que será enviada ao Congresso, afirmou ontem Meirelles ao confirmar o nome do economista-chefe do Itaú Unibanco. A independên­cia do BC, com mandatos fixos para o comando, sempre defendida por Meirelles, não será proposta. Segundo o ministro, isso depende de análise “mais profunda e acordo de maior abrangênci­a”. “Independên­cia do BC não deve ser discutida de afogadilho”, afirmou.

Para Meirelles, ex-presidente do BC no período 2003-2010, a “autonomia técnica” é um “ganho enorme”. Ele ponderou que, nos oito anos à frente da instituiçã­o, funcionou bem, mas que a formalizaç­ão na Constituiç­ão é muito positiva.

Reação. Ilan Goldfajn já era nome dado como certo pelo mercado, e a confirmaçã­o foi bem recebida pelos agentes financeiro­s. Catorze minutos após o anúncio, o atual presidente do BC, Alexandre Tombini, elogiou a escolha, em nota.

“Suas qualidades e sua formação o credenciam a uma bem-sucedida gestão frente à autoridade monetária brasileira”, disse Tombini. Meirelles revelou que Tombini deve permanecer no governo Temer, mas não no Banco Central. O mais provável é que assuma um cargo como representa­nte do Brasil em um organismo internacio­nal.

O nome de Goldfajn deve começar a ser analisado pelo Senado na semana que vem e é grande a expectativ­a se ele comandará a próxima reunião que decide o rumo da taxa básica de juros, marcada para 7 e 8 de junho. Em suas análises pelo Itaú Unibanco, o economista apontou que há espaço para o início do corte da Selic no segundo semestre deste ano. Os aliados de Temer contam com a queda dos juros básicos como condição para reanimar a economia e melhorar as contas públicas.

Ao chegar a Brasília, Goldfajn não quis fazer comentário algum sobre nada, até mesmo em questões pessoais. Indagado se tem três filhos ou três filhas, respondeu: “Não posso comentar”. “É flamenguis­ta?” “Não posso comentar, mas chegou perto”, disse, entre risos. Ilan reuniu-se por mais de uma hora com Meirelles (que no dia anterior esteve com Tombini) e depois com o presidente em exercício, Michel Temer.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Sem surpresa. Nome de Ilan Goldfajn (E) já era dado como certo no governo de Temer

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