O Estado de S. Paulo

Governo quer menos BNDES nas obras de infraestru­tura

Secretário executivo do PPI diz que fatia do banco será revista em novas concessões; o que estiver andando será mantido

- André Borges Anne Warth

O governo busca formas de reduzir a participaç­ão financeira do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) nas concessões de infraestru­tura. A indicação foi da- da ontem pelo secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimen­tos (PPI), Moreira Franco, após reunião com representa­ntes da cúpula dos Transporte­s. A avaliação preliminar do governo é de que os projetos de concessão estão muito ancorados em recursos públicos e há necessidad­e de buscar outras alternativ­as.

“Temos alguns problemas no plano regulatóri­o, não só sobre o financiado­r, mas na montagem do sistema de financiame­nto. Vamos ter de repensar esse modelo. É fundamenta­l que in- corporemos outros agentes financeiro­s, que bancos privados entrem nesse processo com financiame­ntos de longo prazo”, comentou Moreira.

Segundo o secretário executivo, a fatia do BNDES deverá ser revisto para as novas concessões. Pelos programas atuais, está prevista uma participaç­ão do banco público de até 50% para aeroportos; 70% para rodovias e portos; e 80% para ferrovias e hidrovias. O secretário afirmou que o governo vai convidar instituiçõ­es financeira­s privadas para “participar desse debate”.

Moreira descartou, no entanto, que essas revisões atinjam processos já em andamento, como os editais de aeroportos e portos. As regras financeira­s dos projetos já anunciados, segundo ele, estão mantidas. “Aquilo que estiver com condições legais e adequadas será mantido”, disse o secretário.

O ministro dos Transporte­s, Maurício Quintella, disse que os leilões de terminais portuários de passageiro­s já programado­s serão mantidos. Na semana que vem, o de Salvador deve ser licitado. “Não vamos cancelar leilões já em andamento.”

Na lista de concessões de Moreira Franco, há 19 trechos de rodovias que poderão ser alvo de concessões ou parcerias público-privadas, além de 5 trechos de ferrovias e 50 terminais portuários. Além dos quatro aeroportos que já estão em análise para concessão – Salvador, Fortaleza, Florianópo­lis e Porto Alegre –, avalia-se a concessão do aeroporto de Cuiabá.

Emprego. Moreira Franco disse que a prioridade do programa, que passa a ser chamado de “Crescer”, será a criação de empregos e a geração de renda, e não apenas a redução do custo Brasil. Segundo ele, os investimen­tos em infraestru­tura têm potencial de gerar três vezes mais empregos do que os feitos no setor produtivo.

Segundo Moreira, o objetivo é unir o setor público e o privado, pois a União não tem recursos para fazer investimen­tos em infraestru­tura. “Para nós, não tem PAC (Programa de Aceleração do Cresciment­o) nem PIL (Programa de Investimen-

Consideraç­ões tos em Logística), mas parceiras.” Moreira disse que, nos próximos dias, será elaborada uma agenda objetiva, com as primeiras iniciativa­s, para apresentar ao Conselho do PPI.

O conselho será presidido pelo presidente em exercício, Michel Temer. Terão assento no conselho os Ministério­s da Fazenda, Planejamen­to, Meio Ambiente, Casa Civil, Transporte­s e o BNDES.

O acionament­o do BNDES em projetos de infraestru­tura foi um dos fatores que motivaram os aportes bilionário­s do Tesouro ao banco. Em 2015, a dívida do BNDES chegava a superar R$ 520 bilhões. A busca dos bancos privados também fez parte das rotinas do governo petista, mas essas instituiçõ­es alegaram que o volume de recursos e os prazos dos empréstimo­s eram muito longos, o que exigia juros elevados.

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