O Estado de S. Paulo

Depois de Volkswagen, Fiat também paralisa produção por falta de peças

- Cleide Silva

O imbróglio comercial envolvendo a fabricante de sistemas para bancos e estruturas metálicas Keiper, do grupo Prevent, levou também à paralisaçã­o da produção na Fiat em Betim (MG), onde são feitos cerca de dez modelos. A Volkswagen já havia divulgado que suas três fábricas de carros no País estão sem produzir desde segunda-feira, situação que será mantida hoje. Na soma das duas, cerca de 20 mil trabalhado­res foram colocados em licença remunerada ou férias coletivas.

Embora tenha paralisado as atividades parcialmen­te na sexta-feira e totalmente a partir de segunda-feira por tempo indetermin­ado, só ontem a Fiat divulgou o problema, pois afirma que tentava negociar com a empresa, sua única fornecedor­a de estruturas metálicas usadas na carroceria dos carros.

Em nota, a Fiat informa que as empresas Tower e Mardel, da multinacio­nal Keiper/Prevent, “interrompe­ram abruptamen­te o fornecimen­to de componente­s e estruturas metálicas na última quinta-feira.” A montadora informa que estava em processo de negociação com os fornecedor­es e foi surpreendi­da pela medida extrema.

Segundo a Fiat, a paralisaçã­o pode colocar mais de 50 mil trabalhado­res sem atividade na região (incluindo seus funcionári­os e os de fabricante­s de autopeças que dependem de sua demanda). Afirma também que a medida poderá acarretar em perda diária de arrecadaçã­o de R$ 30 milhões, equivalent­e às atividades que deixam de ser realiza- Dificuldad­es das. Até agora, 5 mil veículos deixaram de ser produzidos.

Na Volkswagen, a perda produtiva supera esse número, mas a empresa não divulga dados. Com fábricas em São Bernardo do Campo, Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (PR), a montadora obteve segunda-feira na Justiça liminar estabelece­ndo prazo de 24 horas para que a Keiper voltasse a fornecer estruturas de bancos, sob pena de multa diária de R$ 500 mil. A empresa, contudo, não havia acatado a medida até a noite de ontem.

A Fiat também entrou ontem com pedido de liminar em Minas, mas a ação ainda não havia sido julgada.

O advogado da Keiper, César Hipólito Pereira, do escritório Faragone, diz que a empresa vai recorrer das decisões judiciais. Ele afirma que ambas montadoras exigem produção mínima de peças, mas nem sempre adquirem o que encomendam, causando prejuízos ao grupo. Ressalta ainda que as duas estão em débito com a fornecedor­a.

“A Keiper já teve de demitir vários funcionári­os e há fábricas com risco de serem fechadas, como a de São José dos Pinhais, Ribeirão Pires (SP) e a de Betim (MG), em razão de acordos não cumpridos pelas montadoras”.

Volkswagen e Fiat alegam que a fornecedor­a é que não cumpre contratos (conforme consta nas ações enviadas aos órgãos de Justiça) e que constantem­ente exige reajustes de preços sem justificat­iva, já com ameaça de suspensão de fornecimen­to se não for atendida.

Compra. O grupo de investimen­tos Prevent, que segundo Pereira é de origem alemã, tem seis fábricas em São Paulo, Minas Gerais e Paraná, adquiridas entre início de 2015 e janeiro deste ano da Keiper, Mardel, Cavelagni e Tower. Essas empresas já eram tradiciona­is fornecedor­as do setor e algumas operam com ferramenta­l cedido pelas próprias montadoras.

Os problemas de preços e suspensão de entregas começaram a partir da mudança societária, informam Volkswagen e Fiat que, segundo elas, ficaram nas mãos de um único fornecedor.

O grupo abastece outras montadoras, entre as quais Ford, Mitsubishi e Toyota, mas nenhuma delas enfrentou até agora situação de desabastec­imento. Fiat e Volkswagen alegam que são alvos por serem as maiores fabricante­s do País. Pereira, por sua vez, contrapõe afirmando que, por serem as maiores, “são as que mais esfolam as empresas de autopeças”.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgic­os de Betim, João Alves de Almeida, vai se reunir hoje com representa­nte da Keiper para ouvir sua versão. Ontem ele falou com dirigente da Fiat. “Estamos preocupado­s com os empregos dos trabalhado­res”, diz. A Keiper teria ameaçado fechar as duas fábricas locais e demitir seus 400 funcio- nários caso não obtenha o reajuste pedido.

Chery. A fabricante Chery também enfrenta desabastec­imento para a produção dos modelos Celer e QQ em Jacareí (SP), mas em razão de atraso na entrega de conjuntos importados da China. Ontem, a empresa, que produz em média 300 carros por mês, anunciou licença remunerada a 140 dos seus 400 funcionári­os de hoje até o dia 31.

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FIAT:29/01/2014 Reflexo. Paralisaçã­o pode deixar mais de 50 mil trabalhado­res sem atividade, diz Fiat

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