O Estado de S. Paulo

Congresso recorre para dar aval a afastament­os

Em parecer enviado ao Supremo, Senado defende que decisões da Corte sobre punição a parlamenta­res devem passar pelas duas casas legislativ­as

- Isabela Bonfim Isadora Peron /

O Senado enviou ontem um parecer ao Supremo Tribunal Federal com o entendimen­to de que o afastament­o de qualquer parlamenta­r precisa ser aprovado pelo plenário da Casa legislativ­a respectiva, ou seja, pela Câmara ou pelo Senado. A posição com efeito retroativo pode reverter, por exemplo, o afastament­o do presidente da Câma r a , E d u a r d o C u n h a (PMDB-RJ), aprovado pelo Supremo no dia 5 de maio.

A sugestão é que esse tipo de decisão seja referendad­o pelo plenário da Casa em até 24 horas. Esse já é o trâmite adotado para quando o Supremo determina a prisão de um parlamenta­r, como aconteceu com o senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS) em novembro do ano passado. A nova in- terpretaçã­o, entretanto, abre espaço para que o Congresso revogue qualquer afastament­o decidido pelo STF.

“É mais razoável concluirse que o afastament­o das funções parlamenta­res deve ser excepciona­l e ter por base uma das hipóteses constituci­onais. Por consequent­e, isso quer dizer que a aplicação das medidas cautelares diversas da prisão devem ser submetidas à decisão da Casa Legislativ­a respectiva quando elas representa­rem afastament­o das funções parlamenta­res”, diz o texto enviado Senado.

A manifestaç­ão acontece na mesma semana em que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao Supremo o pedido de prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do segundo vicepresid­ente da Casa, senador Romero Jucá (PMDB-RR).

Em resposta à divulgação do parecer, Renan divulgou uma nota para esclarecer que o documento não expressa sua opinião particular. “As manifestaç­ões da Advocacia-Geral do Senado Federal não espelham opinião do presidente da instituiçã­o”, diz a única frase da nota. O documento é assinado pelo advogado adjunto. Entretanto, o advogado-geral do Senado, Alberto Cascais, é o chefe de gabinete de Renan.

Aliados. O parecer do Senado foi enviado a uma ação direta de inconstitu­cionalidad­e, que tramita no Supremo e foi apresentad­a pelo PP, PSC e Solidaried­ade, partidos aliados de Cunha. O objetivo da ação é justamente questionar o afastament­o do presidente da Câmara.

A ação é ainda mais ampla e pede que outras medidas cautelares também sejam submetidas à apreciação do Senado e da Câmara, como, por exemplo, o monitorame­nto eletrônico e as proibições de manter contato com determinad­a pessoa e de frequentar certos lugares. No parecer do Senado, entretanto, essas medidas cautelares contra parlamenta­res não precisa- riam ser submetidas à apreciação do Congresso.

O caso está sob a relatoria do ministro do STF Edson Fachin e, apesar da manifestaç­ão do Senado, o Supremo não precisa acatar a sugestão. Ontem, durante evento no Rio de Janeiro, o ministro do Supremo Gilmar Mendes também defendeu que é o Congresso quem tem a última palavra para deliberar sobre a prisão de parlamenta­res.

“Para que haja prisão, é preci- so que se caracteriz­e como um flagrante delito. Depois tem que se comunicar à Câmara ou ao Senado, se for o caso, para que deliberem sobre o tema. Claro que eles podem negar a autorizaçã­o e relaxar a prisão”, afirmou Mendes. O ministro lembrou que somente no caso de condenação definitiva o Congresso não tem poder de decidir sobre a prisão de senadores ou deputados.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO-09/03/2016 Interpreta­ção. Decisão do STF sobre afastament­o poderia ser revogada pelo Congresso

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