O Estado de S. Paulo

MP suíço liga conta a campanhas políticas

Procurador­ia-Geral do país informa que suspeita que os recursos, usados em eleições nas Américas do Sul e Central, têm origem criminosa

- Jamil Chade

Pela primeira vez, o Ministério Público da Suíça ligou uma conta secreta investigad­a no país no “caso Petrobrás/Odebrecht” ao pagamento de gastos em “campanhas políticas nas Américas do Sul e Central”. A suspeita das autoridade­s é de que a origem do dinheiro é criminosa.

O MP suíço não informou quais políticos ou partidos estariam ligados a essas campanhas, mas procurador­es em Berna afirmam que o dinheiro da conta está bloqueado e que esses dados foram solicitado­s por autoridade­s brasileira­s.

A informação foi passada ao Estado em resposta a perguntas da reportagem relacionad­as à notícia de que o lobista Zwi Skornicki, apontado como operador de propinas pela Operação Lava Jato, fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal brasileiro. Preso desde 23 de fevereiro de 2016, Zwi Skornicki repassou US$ 4,5 milhões para a conta secreta na Suíça do marqueteir­o do PT, João Santana – preso com a mulher, Mônica Moura, alvos da Operação Acarajé, desdobrame­nto da Lava Jato.

“Como parte das investigaç ões s obre o c a s o Pet r o- brás/Odebrecht, o Escritório do Procurador-Geral da Suíça também ordenou o bloqueio de uma conta que era mantida por uma empresa localmente domiciliad­a”, informou a procurador­ia. “De acordo com as informaçõe­s disponívei­s, ela ( a conta) foi usada para financiar campanhas políticas na América Cen-

Análise As autoridade­s brasileira­s pediram à Suíça a cooperação para obter os dados da conta bancária bloqueada. "Esse pedido por assistênci­a mútua está sendo processado", informou o MP suíço. tral e na América do Sul.”

Skornicki contou em delação que o valor de US$ 4,5 milhões foi solicitado pelo então tesoureiro do PT João Vaccari Neto “para ajudar a financiar a campanha de reeleição de Dilma Rousseff”. Segundo o MP suíço, “em relação à sra Dilma Rousseff, não existe nem um processo criminal e nem investigaç­ões conduzidas em relação a ela”.

Além do Brasil, a Suíça já estabelece­u cooperação com o Panamá no caso envolvendo recursos e pagamentos feitos pela Odebrecht. “Nesse contexto, o Escritório do Procurador-Geral está focando na possibilid­ade de que esses fundos vinham de atividades criminosas, e não na possibilid­ade de que eles possam ter sido usados de maneira ilegal”, disse a procurador­ia.

“Qualquer doação ilegal para campanhas eleitorais e outros objetivos políticos devem ser assunto de investigaç­ão nos países concernido­s e não são, portanto, do interesse direto das investigaç­ões conduzidas pelo Escritório do Procurador-Geral.” Segundo Berna, porém, o Brasil já fez um pedido de cooperação para ter acesso a esses dados e que, por enquanto, a solicitaçã­o está sendo alvo de avaliação.”

Outro lado. A defesa de Dilma Rousseff rebateu anteontem “a insinuação de que teria conhecimen­to de um suposto pedido de R$ 4,5 milhões feito pelo tesoureiro do PT, João Vaccari Neto”. “É público e notório que o tesoureiro da campanha da reeleição foi o ex-ministro Edinho Silva. Ele é quem tratava da arrecadaçã­o para a campanha em 2014. Todas as doações de empresas foram legais.”

A defesa de Vaccari disse que a informação do delator não tem “credibilid­ade”. “Até porque Vaccari era tesoureiro do Partido dos Trabalhado­res, jamais tendo funcionado como tesoureiro de campanha”. A Odebrecht informou ao Estado que não iria comentar o assunto.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil