O Estado de S. Paulo

País tem 1º protesto nacional anti-Temer

Manifestaç­ões ocorreram em quase todas as capitais; Lula faz discurso na Paulista

- Valmar Hupsel Filho André Ítalo Rocha

A primeira manifestaç­ão de caráter nacional contra o governo do presidente em exercício Michel Temer foi realizada ontem em pelo menos 24 Estados e no Distrito Federal pelas frentes Brasil Popular e Povo sem Medo – que congregam entidades ligadas aos movimentos sociais e ligadas à defesa dos direitos dos trabalhado­res – com a participaç­ão de representa­ntes dos estudantes e da classe artística.

Em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou do protesto na Avenida Paulista, onde quatro quarteirõe­s foram fechados nos dois sentidos para dar lugar aos manifestan­tes. Os organizado­res estimaram um público de 100 mil pessoas. A Polícia Militar não havia informado o número aproximado de manifestan­tes até a conclusão desta edição.

Em um discurso de 35 minutos, com voz muito rouca, Lula defendeu o legado das administra­ções petistas, afirmando terem sido responsáve­is pela “maior revolução social do País”, e criticou a extinção de ministério­s do governo Temer. “Era melhor ter tirado o Ministério da Fazenda ou do Planejamen­to do que os ministério­s que cuidam dos pobres”.

Lula disse que não “fica bem” para ele gritar “Fora Temer”, lema da manifestaç­ão, mas afirmou que o peemedebis­ta “não agiu corretamen­te” ao assumir a Presidênci­a. “Temer, você é um constituci­onalista, sabe que não agiu correto assumindo a Presidênci­a interiname­nte. Permita que o povo retome o poder, participe das eleições em 2018”, disse.

Segundo o ex-presidente, somente o povo que elegeu a presidente Dilma Rousseff pode tirá-la da Presidênci­a. Foi quando mirou nos deputados, responsáve­is pela abertura do processo de impeachmen­t. “É só olhar para a cara deles que a gente vai perceber que os 300 picaretas que eu falei em 1994 aumentaram um pouco neste Congresso de hoje”, disse.

Choro. Por duas vezes o expresiden­te chegou a chorar, quando falou da mãe e quando lembrou das acusações das quais é alvo no âmbito da Operação Lava Jato. Lula disse que não perdoa quando alguém tenta incriminá-lo e que as denúncias são uma tentativa de manchar a sua imagem. “Quanto mais me provocam, mas corro o risco o de ser candidato a presidente em 2018”, declarou.

Além de Lula, estiveram pre- sentes no ato em São Paulo o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e as principais lideranças da Central Única dos Trabalhado­res (CUT), Central de Movimentos Populares (CMP), Movimento dos Trabalhado­res Sem-Terra (MST), Movimento dos Trabalhado­res Sem-Teto (MTST) e União Nacional dos Estudantes (UNE). “Se passar a pauta conservado­ra e a reforma da Previdênci­a e trabalhist­a, vamos organizar a maior greve geral que esse País já viu”, ressaltou o presidente da CUT, Vagner Freitas.

Ao contestar críticos que classifica­m o PT como uma “organizaçã­o criminosa”, Lula fez ironia com o PSDB. “Estou de saco cheio. Só faltam dizer que o dinheiro do PSDB vem da sacristia da Igreja da Sé”, disse.

No Rio de Janeiro, os manifestan­tes se reuniram ao redor da Igreja da Candelária, no centro. Além de Temer, foram alvo do protesto Cunha e o deputado Pedro Paulo Carvalho Teixeira (PMDB-RJ), pré-candidato a prefeito do Rio e que, no ano passado, admitiu ter agredido a ex-mulher. A instituiçã­o não estimou o número de participan­tes. Organizado­res calcularam em 800 o número de pessoas presentes.

No Sul, o frio de 8º C não impediu que cerca de mil manifestan­tes, segundo a Brigada Militar, protestass­em contra o governo interino no centro de Porto Alegre. No Nordeste, o ex-ministro de Dilma Jaques Wagner (Casa Civil) e o ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli participar­am do ato que terminou na praça Castro Alves. Em Teresina, os manifestan­tes se misturaram às pessoas que acompanhav­am a tocha olímpica, tentando apagá-la, sob o grito de “Fora Temer” e “Por novas eleições”.

Intimidaçã­o. Em Palmas e em Fortaleza, houve protestos contra a TV Globo. Na capital de Tocantins, foram arremessad­os ovos e tintas na fachada da afiliada. No Ceará, a recepção da TV Verdes Mares chegou a ser ocupada por manifestan­tes.

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ALEX SILVA/ESTADÃO Na Paulista. Lula chora durante discurso

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