O Estado de S. Paulo

Justiça eleitoral fixa data para seguir com processo que pode destituir Maduro

Eleitores poderão na próxima semana informar se desistem de apoiar votação contra o presidente venezuelan­o; Capriles, governador de Miranda e um dos líderes da oposição, acusou o chavismo de fraudar as assinatura­s recolhidas para o processo

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Em meio à troca de acusações de fraude entre chavistas e opositores, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela definiu as datas para o início da validação de listas de assinatura­s que apoiam a convocação de um referendo revogatóri­o do mandato do presidente Nicolás Maduro.

Mais de 1,3 milhão de eleitores serão convocados a seus colégios eleitorais para confirmar a adesão ao processo entre os dias 20 e 24. Antes disso, entre segunda e sexta-feira, eles podem informar se desistem de apoiar a consulta.

Segundo o CNE, entre 1,8 milhão de assinatura­s apresentad­as pela coalizão opositora Mesa de Unidade Democrátic­a (MUD), 600 mil tinham irregulari­dades como impressões digitais ou documentos inexistent­es, cadastro de eleitores mortos ou impedidos de votar.

A validação, segunda etapa do processo de convocação do referendo, foi ativada após semanas de protestos de rua convocados pela oposição para pressionar o governo chavista. Mas a presidente do CNE, Tibisay Lucena, disse que qualquer agressão a funcionári­os ou instalaçõe­s da Justiça Eleitoral levará à suspensão imediata do processo do revogatóri­o até que “a situação se acalme”.

No referendo, a oposição precisará superar a votação de Maduro na eleição de 2013 para tirá-lo do Palácio de Miraflores. A MUD argumenta, no entanto, que o chavismo atrasa proposital­mente o processo para que ele ocorra somente em 2017, quando, segundo a Constituiç­ão, Maduro seria substituíd­o pelo vice e não haveria a convocação de eleições.

Acusações. Ontem, o governador de Miranda, Henrique Capriles, um dos principais líderes da MUD, acusou o chavismo de fraudar a validação de assinatura­s. Segundo ele, sua inscrição não foi contabiliz­ada.

“O que o CNE fez foi pisotear a vontade do povo”, disse Capriles. “Todo mundo sabe que me inscrevi no revogatóri­o e minha assinatura não aparece.”

O chavismo, por sua vez, também acusou a MUD de corromper o processo e prometeu recorrer ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) contra as assinatura­s recolhidas para o referendo.

“Vamos ao TSJ entrar com um recurso que analise isso como uma grave fraude à lei”, disse o prefeito do distrito caraquenho de Libertador, Jorge Rodríguez, que chefia uma comissão governista para supervisio­nar o processo. “Vínhamos dizendo que uma fraude gigantesca estava sendo armada contra a Constituiç­ão e a vontade popular.”

A Organizaçã­o dos Estados Americanos (OEA) marcou para o dia 23 uma sessão extraordin­ária para debater a crise na Venezuela. A sessão foi solicitada em 31 de maio pelo secretário­geral da OEA, Luis Almagro, ao invocar a Carta Democrátic­a Interameri­cana, um instrument­o do bloco que pode levar a gestões diplomátic­as ou até mesmo à suspensão da Venezuela do organismo.

Almagro queria que essa reunião ocorresse o mais rapidament­e possível, em uma data entre os dias 10 e 20, que coinci- dem em parte com a Assembleia-Geral anual da OEA, que reunirá os chancelere­s em Santo Domingo, na República Dominicana, na segunda-feira.

“(Sinto) satisfação com a presidênci­a do Conselho pela fixação da data. Nossa confiança em discussões e decisões que emanem da sessão extraordin­ária”, escreveu Almagro ontem em sua conta no Twitter.

A sessão foi convocada pela presidênci­a rotativa do Conselho Permanente, ocupada atualmente pela Argentina. Nela, Almagro apresentar­á o relatório

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MIGUEL GUTIERREZ/EFE Caos. Polícia tenta controlar tumulto em supermerca­do que recebeu carregamen­to de macarrão em bairro pobre de Caracas

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