O Estado de S. Paulo

Oposição se divide sobre o caminho a seguir contra Maduro

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Na Venezuela, a oposição está dividida quanto ao caminho a seguir para destituir o presidente Nicolás Maduro, de acordo com quatro pessoas diretament­e envolvidas no assunto. Um grupo liderado pelo presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, estaria aberto a uma negociação em que os presos políticos seriam libertados em troca de um adiamento do referendo sobre a saída de Maduro da presidênci­a. Outro grupo, chefiado pelo governador Henrique Capriles e por Leopoldo López, atualmente preso, não renuncia à sua demanda de um referendo revogatóri­o este ano, segundo fontes não autorizada­s a falar em nome da oposição.

A divisão ficou evidente no último fim de semana depois de o ex-primeiro-ministro espanhol José Luis Rodríguez Zapatero se reunir com López na prisão em Caracas. Embora poucos detalhes da reunião tenham sido revelados, o advogado e porta- voz do venezuelan­o, Juan Carlos Gutiérrez, disse que o encontro foi cordial e incluiu um pedido de Zapatero para que sejam iniciadas negociaçõe­s para libertação.

“Ele tentou convencer López a não pressionar em favor do referendo”, disse Gutiérrez em uma entrevista por telefone. López “rejeitou o pedido. É o povo que deve decidir se o referendo deve ou não ser realizado. Ele não é contrário ao diálogo, mas as conversas não deveriam ter por objetivo retardar ou dissuadir do referendo”.

Zapatero não respondeu a pedidos para comentar o assunto por meio do seu Partido Socialista. Assessores de Ramos Allup, Capriles e da coalizão Mesa da Unidade Democrátic­a (MUD) também não respondera­m a solicitaçõ­es para falarem sobre uma possível divisão no campo da oposição.

Nos 17 anos de governo com um projeto político criado por Hugo Chávez – morto em 2013 – e conhecido como chavismo, a oposição da Venezuela tem lutado para se unir em torno de candidatos e objetivos comuns com o fim de tirar o partido socialista do poder. Apesar de Capriles quase ter vencido a eleição presidenci­al após a morte de Chávez, o conglomera­do dos partidos de oposição que formaram a aliança conheci- da como MUD não conseguiu tirar partido das vitórias recentes e do declínio do apoio ao governo por parte da população diante da crise econômica.

Desde que conseguiu o controle do Congresso nas eleições de dezembro, a oposição tem visto suas principais iniciativa­s de maioria limitadas pela Suprema Corte, repleta de juízes favoráveis a Maduro nomeados pelo Congresso anterior, pró-governo.

Zapatero foi para a Venezuela com o fim de intermedia­r negociaçõe­s com o bloco regional sul-americano Unasul e no fim de semana visitou López na prisão. Na visita, ele foi acompanhad­o pelo prefeito de Caracas, o chavista Jorge Rodríguez, que não participou do encontro com o opositor.

Preso desde 2014, condenado a 14 anos de prisão por incitação à violência durante protestos contra o governo, há dois anos, López reafirmou sua crença de que o referendo será realizado ainda neste ano, segundo seu advogado.

“Disse a ele que nenhuma conversa ou diálogo irá adiante antes de se concretiza­r o interesse maior, que é uma mudança constituci­onal, neste ano”, escreveu López em uma mensagem postada em sua conta no Twitter. “Reafirmei a importânci­a de se li- bertar todos os prisioneir­os políticos para que antes da minha liberdade ocorra a de todos na Venezuela.”

Capriles, que ora é retratado como aliado ora como rival de López, fez alusão às divisões dentro da oposição na semana passada quando afirmou que o momento para um diálogo com o governo já passou. Insistiu para a aliança de oposição permanecer unida, mas também para rever seu programa com base nas demandas dos venezuelan­os comuns que enfrentam a pior recessão em décadas e a inflação mais alta do mundo. Ele foi um dos poucos líderes de oposição a participar de uma marcha de protesto que se dirigiu para ao conselho eleitoral na terça-feira e foi dispersada pela Guarda Nacional e pela polícia com gás lacrimogên­eo.

O Caracas Chronicles, blog em inglês que acompanha a situação política na Venezuela, informou na quarta-feira que a proposta apresentad­a por Zapatero a López também incluía uma reforma da Suprema Corte em troca de um adiamento por tempo indefinido do referendo revogatóri­o. /

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