Abaixo-assinado contra motorista é encontrado
Documento foi achado em pertences de estudantes e trazia reclamações de supostas ‘manobras ilegais’; críticas não eram compartilhadas por todos
Um abaixo-assinado que pedia providências da prefeitura de São Sebastião contra o motorista Antônio Carlos da Silva foi encontrado entre os pertences das vítimas do acidente na Rodovia Mogi-Bertioga. O veículo conduzido por Silva tombou, matando 17 estudantes na noite da quarta-feira passada. Silva também morreu no desastre. O nome do profissional não estava no documento, que também não continha assinaturas, mas estudantes confirmaram que a mobilização tinha o motorista morto como alvo.
A Polícia Civil afirmou que ainda é prematuro fazer suposições sobre o fato. O documento, que seria endereçado à secretária de Educação de São Sebastião, Maria Zeneide Nunes da Silva Moraes, relata supostas “manobras ilegais” feitas pelo condutor “em tempo chuvoso e com neblina”. “Houve algumas atitudes do respectivo funcionário que colocou em risco a integridade física dos estudantes que utilizam o transporte”, consta em trecho do texto.
Ontem, a estudante Aline de Jesus, de 20 anos, que estava no ônibus e teve ferimentos leves, foi à Delegacia de Bertioga e confirmou que o abaixo-assinado era contra Silva. Segundo ela, os estudantes reclamavam que ele dirigia em alta velocidade e era imprudente. Bastante abalada, ela não soube dizer se houve alguma discussão entre os passageiros e o motorista. “Cheguei no ônibus só as 22 horas, não sei se aconteceu algo antes.” Ela relatou que estava dormindo quando escutou os amigos gri- tando. “Eu coloquei o cinto e pedi para a minha amiga Carol ( que morreu) mudar de lugar, porque o dela não estava fechando. O ônibus tombou e depois não vi mais nada.”
Ela relatou que o motorista voltou havia uma semana para a linha. “Ele corria sempre, queria sair cedo, chegar cedo.” Por causa disso, afirmou ela, os estudantes decidiram organizar o abaixo-assinado para pedir mudanças.
A estudante Luziane Batista, de 19 anos, confirmou a existência da iniciativa, mas ponderou que nem todos compartilhavam das reclamações. “Era uma minoria que estava se mobilizando.” Ela disse que alguns alunos reclamavam sobre o horário de retorno do motorista. “Mas não da forma como ele conduzia.”
O documento também relata que o motorista “também deixou e quis deixar por vezes estudantes que se atrasaram para a saída do ônibus”. A reclamação foi contestada por Luziane. Segundo ela, o motorista nunca abandonou alunos na universidade, mesmo os atrasados. Na terça-feira, porém, ele saiu com o veículo, voltando minutos depois para buscar o restante do grupo. “Foi só um susto”, disse.
Em nota, a prefeitura de São Sebastião informou que nenhum documento foi protocolado na Secretaria de Educação pelos estudantes, relatando problemas ou solicitando a substituição do motorista. Por não saber da reclamação, a comissão dos transportes não abriu sindicância para apurar a veracidade do protesto.
Investigação. O delegado titular de Bertioga, Maurício Barbosa Júnior, afirmou que quer co- meçar a agendar a coleta dos depoimentos dos sobreviventes a partir de segunda-feira. “A relação das vítimas só chegou hoje ( ontem). Preciso fazer o contato com os sobreviventes para mar- car um dia para ouvi-los”, disse. Perícia do Instituto de Criminalística (IC) avaliará as condições do veículo, assim como freios, pneus e direção, além do local do acidente.