O Estado de S. Paulo

Abaixo-assinado contra motorista é encontrado

Documento foi achado em pertences de estudantes e trazia reclamaçõe­s de supostas ‘manobras ilegais’; críticas não eram compartilh­adas por todos

- Fábio Lemos Lopes

Um abaixo-assinado que pedia providênci­as da prefeitura de São Sebastião contra o motorista Antônio Carlos da Silva foi encontrado entre os pertences das vítimas do acidente na Rodovia Mogi-Bertioga. O veículo conduzido por Silva tombou, matando 17 estudantes na noite da quarta-feira passada. Silva também morreu no desastre. O nome do profission­al não estava no documento, que também não continha assinatura­s, mas estudantes confirmara­m que a mobilizaçã­o tinha o motorista morto como alvo.

A Polícia Civil afirmou que ainda é prematuro fazer suposições sobre o fato. O documento, que seria endereçado à secretária de Educação de São Sebastião, Maria Zeneide Nunes da Silva Moraes, relata supostas “manobras ilegais” feitas pelo condutor “em tempo chuvoso e com neblina”. “Houve algumas atitudes do respectivo funcionári­o que colocou em risco a integridad­e física dos estudantes que utilizam o transporte”, consta em trecho do texto.

Ontem, a estudante Aline de Jesus, de 20 anos, que estava no ônibus e teve ferimentos leves, foi à Delegacia de Bertioga e confirmou que o abaixo-assinado era contra Silva. Segundo ela, os estudantes reclamavam que ele dirigia em alta velocidade e era imprudente. Bastante abalada, ela não soube dizer se houve alguma discussão entre os passageiro­s e o motorista. “Cheguei no ônibus só as 22 horas, não sei se aconteceu algo antes.” Ela relatou que estava dormindo quando escutou os amigos gri- tando. “Eu coloquei o cinto e pedi para a minha amiga Carol ( que morreu) mudar de lugar, porque o dela não estava fechando. O ônibus tombou e depois não vi mais nada.”

Ela relatou que o motorista voltou havia uma semana para a linha. “Ele corria sempre, queria sair cedo, chegar cedo.” Por causa disso, afirmou ela, os estudantes decidiram organizar o abaixo-assinado para pedir mudanças.

A estudante Luziane Batista, de 19 anos, confirmou a existência da iniciativa, mas ponderou que nem todos compartilh­avam das reclamaçõe­s. “Era uma minoria que estava se mobilizand­o.” Ela disse que alguns alunos reclamavam sobre o horário de retorno do motorista. “Mas não da forma como ele conduzia.”

O documento também relata que o motorista “também deixou e quis deixar por vezes estudantes que se atrasaram para a saída do ônibus”. A reclamação foi contestada por Luziane. Segundo ela, o motorista nunca abandonou alunos na universida­de, mesmo os atrasados. Na terça-feira, porém, ele saiu com o veículo, voltando minutos depois para buscar o restante do grupo. “Foi só um susto”, disse.

Em nota, a prefeitura de São Sebastião informou que nenhum documento foi protocolad­o na Secretaria de Educação pelos estudantes, relatando problemas ou solicitand­o a substituiç­ão do motorista. Por não saber da reclamação, a comissão dos transporte­s não abriu sindicânci­a para apurar a veracidade do protesto.

Investigaç­ão. O delegado titular de Bertioga, Maurício Barbosa Júnior, afirmou que quer co- meçar a agendar a coleta dos depoimento­s dos sobreviven­tes a partir de segunda-feira. “A relação das vítimas só chegou hoje ( ontem). Preciso fazer o contato com os sobreviven­tes para mar- car um dia para ouvi-los”, disse. Perícia do Instituto de Criminalís­tica (IC) avaliará as condições do veículo, assim como freios, pneus e direção, além do local do acidente.

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FABIO LEMOS LOPES/ESTADAO Sem assinatura­s. Papel ainda não tinha sido preenchido

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