O Estado de S. Paulo

Cardeal fica preso em meio a tiroteio no centro do Rio

Confronto entre PMs e traficante­s obrigou D. Orani Tempesta a sentar na calçada para escapar dos tiros; um homem morreu

- Fábio Grellet Sergio Torres

O arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal d. Orani Tempesta, teve de saltar às pressas do carro em que estava para se proteger de um tiroteio entre policiais militares e criminosos em Santa Teresa, na região central do Rio, por volta das 9 horas de ontem. O religioso seguia do Cristo Redentor, no Cosme Velho, para o Aeroporto Santos Dumont, no centro. Sentado na calçada, ele aguardou o fim do confronto por cerca de dez minutos, ladeado por pessoas que também correram em busca de proteção.

O tiroteio confrontou PMs do 5.º Batalhão e da Unidade de Polícia Pacificado­ra (UPP) dos Morros da Coroa, Fallet e Fogueteiro e traficante­s de drogas da Favela do Fallet. De acordo com a versão policial, os criminosos atacaram os PMs, que reagiram. Dois suspeitos foram baleados e encaminhad­os para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no centro. Carlos Eduardo Nogueira da Silva, de 20 anos, morreu após ser socorrido.

Depois do confronto inicial, um grupo de moradores da favela interditou, à tarde, a Rua Itapiru, no Catumbi (bairro da região central na parte baixa de Santa Teresa). Os manifestan­tes criticavam a ação da polícia e chegaram a incendiar um ônibus. Por volta das 16h45, a polícia liberou o tráfego na rua.

No vizinho Morro do Querosene, na área da UPP São Carlos, no Estácio, também na região central, foi encontrado o corpo de um homem sem documentaç­ão. A Polícia Civil investiga se a morte teve relação com as trocas de tiros.

“Sociedade doente”. Em meio aos conflitos, o cardeal e as pessoas que estavam na área trataram de se proteger. D. Orani estava no banco traseiro do carro quando o trânsito parou. No site da Arquidioce­se do Rio, o cardeal divulgou uma foto dele aguardando o fim do tiroteio – sentado na calçada e mexendo no celular – e o seguinte texto: “( Estava) voltando do ( Cristo) Redentor e indo para o aeroporto. Junto com muitos outros passageiro­s de ônibus e outros veículos. Ficamos uns dez minutos. Quando amainou um pou- co, demos marcha a ré e pegamos outra rua. Os ônibus à frente continuara­m parados. Não sei como terminou.”

O religioso seguiu para Valinhos, no interior paulista, e voltou a falar sobre o caso. “São essas coisas que acontecem no mundo de hoje, bastante complexo. A sociedade está doente e precisamos construir uma nova, mais justa, humana e solidária, em que as pessoas possam viver com dignidade. Onde está o povo do Rio, eu estou. Compartilh­o das suas aflições.” A Polícia Militar fracassou ontem na tentativa de prender criminosos que atuam no complexo de favelas do Morro São José Operário, zona oeste, onde nos dias 21 e 22 de maio uma adolescent­e de 16 anos foi estuprada, no caso que ganhou repercussã­o internacio­nal. Os PMs terminaram a operação sem prender ninguém nem apreender armas ou drogas.

A agressão sexual sofrida pela jovem aconteceu em duas casas abandonada­s no Morro da Barão, que integra o complexo. A delegada que investiga o crime, Cristiana Onorato Bento, da Delegacia da Criança e Adolescent­e Vítima (DCAV), pediu a prisão de três traficante­s locais acusados de envolvimen­to no estupro e foragidos: o chefe do tráfico, Sérgio Luiz da Silva Júnior, o Da Russa; Moisés de Lucena, o Canário; e um homem conhecido como Perninha.

A ação no complexo foi feita por policiais militares do Grupo de Ações Táticas (GAT), do 9.° Batalhão (Rocha Miranda, zona norte) e do 18.° Batalhão (Jacarepagu­á, zona oeste). Segundo a corporação, a ação teve o objetivo de “proporcion­ar maior sensação de segurança aos moradores da região e prevenir os crimes de roubo de veículos, de cargas, de rua e o tráfico de drogas”.

Conclusão. De acordo com policiais da DCAV, as investigaç­ões sobre o estupro deverão ser encerradas na próxima semana. A única possibilid­ade de as apurações prosseguir­em é se os resultados das perícias nos celulares e nos locais de crime revelarem novos fatos.

A delegada deverá indiciar pelo estupro os acusados Raí de Souza, de 22 anos; Raphael Assis Duarte Belo, de 41; o traficante Moisés Lucena, o Canário; e Perninha. Raí e Belo já estão presos. Uma perícia preliminar no primeiro vídeo detectou quatro vozes diferentes no quarto onde a adolescent­e foi violentada.

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JOSÉ ALVES / ARQRIO D. Orani. ‘A sociedade está doente’, afirmou o arcebispo

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