O Estado de S. Paulo

MP acusa Samarco de fraudar dados

Investigaç­ão que levou à denúncia aceita pela Justiça de Minas aponta que não havia licença para depósito de rejeitos; a mineradora nega

- Leonardo Augusto

A mineradora Samarco fraudou documentaç­ão e ocultou informaçõe­s para conseguir dos órgãos ambientais de Minas Gerais autorizaçã­o para manter o funcioname­nto da barragem de Fundão, em Mariana, que se rompeu em 5 de novembro, matando 18 pessoas. A informação é do promotor Mauro Ellovitch, que integra a força-tarefa montada pelo Ministério Público de Minas para apurar as causas do desastre.

As investigaç­ões apontaram ainda que não havia licença ambiental para o depósito de rejeitos de minério de ferro da Vale, controlado­ra da Samarco juntamente com a BHP Billiton, em Fundão. As irregulari­dades levantadas pela promotoria foram apresentad­as em denúncia contra a Samarco e dez executivos, entre os quais o diretor-presidente da empresa à época, Ricardo Vescovi, acatada anteontem pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG).

A força-tarefa aponta ainda no documento modificaçõ­es feitas na estrutura da barragem sem acompanham­ento legal. “As provas demonstram que a Samarco realizou o recebiment­o de rejeitos da Vale S/A e alterações significat­ivas na barragem de Fundão, de forma ilegal, sem qualquer licença ou controle. Além disso, a empresa induziu os órgãos ambientais a erro”, afirma Ellovitch.

Em um dos trechos da denúncia, que foi separada em três partes, a promotoria afirma que o recuo realizado pela Samarco na face da barragem de Fundão compromete­u a segurança da estrutura. A denúncia aponta ainda que a Samarco não informou o cumpriment­o de condiciona­ntes para revalidaçã­o da licença de operação da barragem de Fundão em 2013. Mineradora. Procurada, a Samarco informou que “não teve acesso à denúncia feita pelo Ministério Público”. “Mas, em relação às informaçõe­s divulgadas pela mídia, reitera que sempre cumpriu, rigorosame­nte, toda a legislação relativa ao licenciame­nto ambiental e à operação de barragens. A empresa reforça que todas as suas barragens têm Licenças de Operação concedidas pela Superinten­dência Regional de Regulariza­ção Ambiental (Supram). A última fiscalizaç­ão ocorreu em julho de 2015 e indicou que as barragens encontrava­m-se em totais condições de segurança.”

“As renovações das licenças também foram referendad­as nas reuniões públicas do Conselho de Política Ambiental, com participaç­ão do Ministério Público de Minas”, continua a nota oficial. “Já o processo de alteamento da barragem foi realizado de acordo com o manual de operações elaborado pelo projetista. O recuo iniciado em 2012 era parte da operação da barragem, adotado temporaria­mente para dar tratamento necessário à galeria secundária.”

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MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO-29/1/2016 Enxurrada de rejeitos. Promotor diz que obra compromete­u a operação da barragem

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