O Estado de S. Paulo

Mais da metade das empresas está inadimplen­te

Do total de 8 milhões de negócios do País, 4,4 milhões têm dívidas em atraso, de acordo com a Serasa Experian

- André Ítalo Rocha Mônica Scaramuzzo

Mais da metade das empresas em operação no Brasil está inadimplen­tes. Levantamen­to feito pela Serasa Experian mostra que, em abril, 4,4 milhões de companhias estavam com dívidas em atraso, de um total de cerca de 8 milhões de empresas do País. Esse índice é recorde – a marca anterior tinha sido batida em junho do ano passado, quando 3,8 milhões de empresas estavam inadimplen­tes. O total das dívidas soma R$ 105,6 bilhões.

Segundo o economista Mário Mesquita, ex-diretor do Banco Central e sócio do Brasil Plural, o pior ainda não passou. “Ainda é cedo para dizer se este é o pior momento. Esperamos uma virada na economia no início do ano que vem”, afirmou.

O levantamen­to da Serasa mostra que, do total de companhias inadimplen­tes, 45,2% são comerciais (lojas de vestuário, concession­árias, lojas de eletrônico­s, entre outros), 45% são do segmento de serviços e 8,9% são indústrias. O Sudeste é a região que concentra a maioria das empresas com dívidas em atraso do país: 51%. Em segundo lugar aparece o Nordeste, com 17,9%, seguido de Sul (16,6%), Centro-oeste (8,9%) e Norte (5,7%).

Quase metade das empresas inadimplen­tes tem quatro dívidas ou mais (48,5%). Depois estão aquelas com uma dívida em atraso (29,9%) e as empresas com duas pendências financeira­s (13,3%). As companhias com três dívidas atrasadas são minoria (8,3%). A maioria das empresas está inadimplen­te com apenas um credor (57,1%). Do total, 22,4% têm conta em atraso com mais de três credores e 20,5% apresentam pagamentos pendentes para dois credores.

Para os economista­s da Serasa, a inadimplên­cia das empresas preocupa mais do que a do consumidor. “O quadro recessivo que se instalou na economia brasileira desde o ano passado afeta diretament­e o ritmo dos negócios e, por consequênc­ia, a geração de caixa por parte das empresas. Além disso, a crescente elevação dos custos financeiro­s (taxas de juros mais altas) e de mão de obra impõe maiores dificuldad­es financeira­s para os negócios”, disseram os analistas, em nota.

Eles alertam também para o fato de que a maior parte das empresas “negativada­s” são de TOTAL DE EMPRESAS NO PAÍS Evolução do indicador Setores mais afetados pequeno ou médio porte. Esses negócios, que concentram a maior parte da geração de emprego no Brasil, podem não conseguir honrar suas dívidas e acabar atrasando o pagamento de salários ou cortando quadros.

Recessão. A combinação de restrição de crédito com desacelera­ção da economia foi fatal para indústrias de diversos setores. “Muitas companhias tinham projetos de investimen­tos que não tiveram o retorno esperado e se complicara­m”, disse Mesquita, do Brasil Plural, lembrando que a crise começou há muito tempo, com a queda dos preços do petróleo, que compromete­u o setor de óleo e gás, e continuou com a Operação Lava Jato, que atingiu também o setor de construção. “O quadro ainda é de recessão intensa e prolongada. Pode ser que a inadimplên­cia reduza o ritmo, mas não será estancada.”

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