O Estado de S. Paulo

Sinais de reação

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A indústria faturou US$ 2 , 3 9 b i l h õ e s com exportaçõe­s de produtos elétric os e e l e t r ônicos entre janeiro e maio – valor 1,9% maior que o de um ano antes. Todo aumento das vendas externas de manufatura­dos é uma novidade importante, depois de anos de retração das vendas e de perda de participaç­ão no mercado global. Cinco montadoras contratara­m 1.230 empregados temporário­s, em abril e maio, para a produção de veículos destinados ao mercado exterior. Qualquer espaço conquistad­o ou reconquist­ado no comércio exterior pode ser precioso para a reativação do enfraqueci­do setor automobilí­stico. Os desafios são enormes, nesse e na maior parte dos segmentos industriai­s. Apesar disso, para os mais otimistas a economia bateu no fundo do poço ou está quase batendo. Essa afirmação é ainda muito arriscada. De toda forma, começam a surgir alguns sinais positivos, ainda fracos e insuficien­tes para indicar a estabiliza­ção, mas nem por isso desprezíve­is.

A recessão brasileira é a mais grave em oito décadas, a inseguranç­a econômica é agravada pela incerteza política e, neste ambiente de quase paralisia, vale a pena dar atenção a qualquer indício de vitalidade e a qualquer sinal de confiança. Um dos mais importante­s, depois da instalação do governo interino, foi a melhora das condições de acesso ao mercado financeiro internacio­nal.

Aumentou a demanda de papéis de empresas brasileira­s já conhecidas no exterior. Em menos de um mês, como noticiou o grandes companhias – incluídas Petro- brás, Vale, Marfrig, Cosan e Eldorado – conseguira­m captar US$ 9,6 bilhões com a oferta de bônus no mercado internacio­nal. Essa captação, segundo fonte do setor financeiro citada na reportagem, supera a de todo o ano passado, limitada a US$ 8 bilhões. Ainda falta muito para os financiame­ntos voltarem aos níveis observados há alguns anos, quando os totais negociados em um semestre podiam superar US$ 25 bilhões.

Uma combinação de fatores levou à maior procura de papéis brasileiro­s. Do lado interno, a notícia positiva, do ponto de vista do mercado, foi a mudança de governo, com maior possibilid­ade, a partir de agora, de retorno à responsabi­lidade fiscal e de implantaçã­o de reformas de longo alcance. Isso depende, é claro, do resultado do processo de impeachmen­t, mas os sinais de otimismo, nesse caso, são claros.

Do lado externo, os indícios favoráveis vieram principalm­ente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). A próxima alta dos juros americanos foi novamente adiada. Também isso realçou o atrativo dos títulos brasileiro­s, ainda valorizado­s por juros mais altos que os encontrado­s na maior parte do mercado internacio­nal. Para as companhias brasileira­s, de toda forma, a possibilid­ade de financiame­nto mais barato que o do mercado interno é hoje especialme­nte importante.

Outro sinal positivo, apesar de ainda muito discreto, foi detectado na indústria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O Indicador de Intenção de Investimen­tos melhorou ligeiramen­te do primeiro para o segundo trimestre, passando de 81,9 para 82,5 pontos. Ainda ficou 9,6 pontos abaixo do estimado um ano antes, mas a leve melhora, segundo o economista Aloísio Campelo Jr., da FGV, pode ser um sinal de superação da fase mais negativa.

Mas as causas da elevação do indicador são pouco perceptíve­is para o leigo. Do primeiro para o segundo trimestre a parcela de empresas com possível expansão de investimen­to diminuiu de 16,7% para 16,2%. Aquelas com perspectiv­a de estabilida­de aumentaram de 48,5% para 50,1%. O grupo com intenção de investir menos diminuiu de 34,8% para 33,7%. A redução deste grupo é o fator positivo identifica­do pelos autores da pesquisa. Pode parecer pouco significat­iva, mas essa mudança pode indicar um começo de estabiliza­ção.

Embora muito limitados, esses sinais positivos constituem um importante capital inicial de um novo governo. Fazê-lo render e multiplica­r-se é a grande tarefa do ainda presidente em exercício Michel Temer.

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