O Estado de S. Paulo

Planalto e Centrão tiram apoio a mandato de Cunha

Presidente afastado da Câmara descarta renúncia apesar de antigos aliados verem situação como insustentá­vel; Conselho de Ética vota parecer pela cassação amanhã

- Alberto Bombig Igor Gadelha

O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) perdeu apoio do Pal á c i o do Pl a nal t o, do PMDB e do Centrão (maior bloco parlamenta­r informal do Congresso) na luta para manter o mandato. Antes poderoso, o presidente afastado da Câmara está acuado por antigos aliados, que o pressionam para que renuncie ao cargo na direção da Casa, e pela Operação Lava Jato. Cunha vê a preservaçã­o do mandato como única forma de não ser preso – ele teme que seus processos sejam remetidos a primeira instância e fiquem sob cuidados do juiz Sérgio Moro.

Na semana passada, Cunha foi procurado por dois parlamenta­res do Centrão, grupo que ajudou a criar. Ambos o aconselhar­am a renunciar, pelo bem do governo do presidente em exercício Michel Temer. Cunha se descontrol­ou e, aos gritos, disse que jamais tomará essa atitude. A medida seria vista como sinal de enfraqueci­mento, e isso poderia tornar inevitável a cassação em plenário.

Na quinta-feira, dia em que a mulher dele, a jornalista Cláudia Cruz, virou ré na Lava Jato por decisão de Moro, o deputado mandou mensagens a integrante­s do Centrão dizendo que não pode abrir mão do mandato porque o juiz federal promoveria um “cerco” a ele e a sua família.

A estratégia para tirar Cunha de cena vem sendo chamada nos bastidores do governo e do Congresso de “operação mão do gato”, numa dupla referência ao gesto do felino de bater e recolher o braço imediatame­nte e ao ato de agir sorrateira­mente. O medo do PMDB e do Planalto é de que Cunha, num gesto de vingança, possa fazer acusações contra Temer e o partido. No Planalto, a avaliação é de que Cunha se tornou um fator que só atrapalha o governo.

Criador e criatura. No Centrão, a convicção é de que a “criatura se tornou maior doque ocriador”, conforme a definição de um líder ao falar do grupo e de Cunha. O objetivo do bloco é manter o poder sobre o comando da Câmara e fazer o sucessor do presidente afastado da Casa.

Líderes do Centrão avaliam ser possível vencer a votação sobre o processo que pesa contra Cunha no Conselho de Ética da Câmara, prevista para amanhã, e aprovar uma pena mais branda, como suspensão por três meses. Para isso, contam com o voto da deputada Tia Eron (PRB-BA), que não assume publicamen­te a defesa da cassação do mandato.

No plenário, porém, o prognóstic­o é desfavoráv­el ao peemedebis­ta. Por isso, parte do Centrão vê como alternativ­a mais viável que o presidente afastado renuncie ao cargo – o gesto poderia convencer parlamenta­res a aceitarem a pena branda.

“Hoje a situação está muito difícil. Chegou a um ponto muito desgastant­e. Fica difícil apoiar”, afirma o líder do PR, Aelton Freitas (MG). Segundo ele, no plená- rio será muito difícil para os deputados que sustentam Cunha nos bastidores manter esse apoio, pois a votação será aberta.

Vice-líder do PMDB e membro da “tropa de choque” de Cunha, o deputado Carlos Marun (MS) admite que haverá votos contrários ao peemedebis­ta até na bancada, mas avalia ser minoria. “Obviamente não é uma situação fácil, haja vista a pressão externa.”

No PP, o líder Aguinaldo Ribeiro (PB) apoia o presidente afastado da Câmara nos bastidores, mas já é pressionad­o por seus deputados por sua posição. “Nomomento em que o processo for à votação em plenário, a maioria do PP não vota com Cunha. A maioria não está com ele. O pessoal só não está manifestan­do isso em respeito ao líder”, disse o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), da bancada ruralista.

No plenário, bastam 257 votos para a cassação de Cunha ser aprovada. Hoje, nove partidos se declararam nesse sentido: PT, PC do B, PDT, Rede, PSOL, DEM, PSDB, PSB e PPS, que somam 218 deputados. O Centrão tem cerca de 220 parlamenta­res.

Além de articular a mudança no parecer do Conselho de Ética que pede sua cassação, Cunha atua na Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) para mudar as regras de votação do relatório no plenário e, com isso, impedir que a recomendaç­ão por uma pena mais branda seja alterada para umapunição mais dura. Oprocesso por quebra de decoro foi aberto há mais de 220 dias e tem como objeto a acusação de que Cunha mentiu ao afirmar na CPI da Petrobrás, em 2015, que não possuía contas secretas no exterior.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO Decoro. Aliados de Cunha admitem prognóstic­o desfavoráv­el para votação no plenário
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