O Estado de S. Paulo

Baiano diz ter recebido R$ 500 mil da Odebrecht quando estava preso

Lobista afirma à PF que construtor­a pagou em 2014 e 2015 por serviço ‘lícito’ de consultori­a realizado anos antes

- Julia Affonso Ricardo Brandt Fausto Macedo

Um dos operadores de propina no esquema de corrupção instalado na Petrobrás, o lobista Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, admitiu à Polícia Federal que a Odebrecht lhe pagou R$ 550 mil entre 2014 e 2015, quando ele estava preso.

Fernando Baiano passou quase um ano detido em Curitiba, base da Operação Lava Jato, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, e deixou a prisão após fechar acordo de delação premiada. Ex-aliado do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi protagonis­ta de um repasse de US$ 5 milhões ao parlamenta­r, em 2011, que seria fruto do esquema na Petrobrás.

No último dia 2, o lobista prestou novo depoimento à PF e foi questionad­o sobre as entregas de dinheiro em espécie feitas no endereço de sua empresa, Hawk Eyes, aos cuidados de seu irmão, Gustavo. Os valores teriam sido repassados pelo Setor de Operações Estruturad­as da Odebrecht.

O nome de Gustavo foi identifica­do em uma planilha secreta de propina apreendida na casa da secretária de altos executi- vos da Odebrecht, Maria Lúcia Guimarães Tavares, suspeita de ser responsáve­l por parte da distribuiç­ão da “rede de acarajés” – que seria referência à propina.

Refinaria. O lobista explicou que em 2009 foi procurado por Cezar Tavares e Luiz Carlos Moreira para que indicasse uma empresa interessad­a no projeto de uma refinaria em Angola. Segundo Baiano, a consultori­a de Cezar Tavares havia sido contratada pela Sonangol, no país africano, para desenvolve­r novos negócios em Lobito. Ele decidiu, então, indicar a Andrade Gutierrez e a Odebrecht, empresas com mais atuação em Angola.

O lobista relatou que a escolha da consultori­a foi pela Odebrecht e que a ideia de Tavares e Moreira era ajudar a construtor­a a vencer a concorrênc­ia para algumas obras na refinaria. Fernando Baiano procurou o então diretor da Odebrecht Rogério Araújo – preso na Lava Jato em junho de 2015 – para falar, segundo ele, sobre outras obras e aproximar as duas partes.

Em seu relato, Baiano afirma ter participad­o apenas de duas reuniões com Tavares e a Odebrecht e depois ter procurado a construtor­a apenas em 2012, com o intuito de receber pela consultori­a prestada. Ambos não chegaram a um acordo sobre valores até 2014, quando o lobista foi preso e, segundo ele, a Odebrecht se recusou a “pagar alguém que estava preso”.

Ainda de acordo com o relato dado à PF, esse teria sido o motivo de a construtor­a ter “pago por fora” ao seu irmão, Gustavo, em um contrato lícito.

A reportagem não localizou Tavares e Moreira. A Odebrecht não quis se manifestar.

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GERALDO BUBNIAK/AGB-11/5/2015 Lava Jato. Baiano foi solto após acertar delação premiada

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