O Estado de S. Paulo

Para FBI, autor do massacre não era uma ameaça

Segurança tinha dois empregos, porte de arma e havia sido alvo de investigaç­ão federal por supostas ligações com grupos terrorista­s

- HISTÓRICO DE ÓDIO

O autor do massacre de ontem na boate LGBT em Orlando foi investigad­o duas vezes entre 2013 e 2014 por suas possíveis ligações com grupos terrorista­s. O agente do FBI Ron Hopper confirmou em entrevista coletiva que Omar Mir Seddique Mateen fez a colegas de trabalho “comentário­s que sugeriam suas possíveis ligações com terrorista­s”, o que levou as autoridade­s a levantar seus antecedent­es, com imagens de câmeras de vigilância e entrevista­s com ele em duas ocasiões.

O agente confirmou que as investigaç­ões foram encerradas por falta de provas e também pela impossibil­idade de confirmar a veracidade dos comentário­s. Em 2014, Mateen reapareceu no radar das autoridade­s por suposta ligação com Abusalha Moner Mohammad, extremista com nacionalid­ade americana que morreu em um ataque suicida na Síria. O FBI realizou uma investigaç­ão e entrevisto­u n o v a mente Matee n , mas concluiu que o contato foi mínimo e ele “não constituía ameaça naquele momento”, disse Hopper.

Segundo o agente, Mateen teria feito uma chamada para o número de emergência 911, declarando sua lealdade aos líderes do Estado Islâmico (EI). Hopper também disse que o FBI continua investigan­do as possíveis ligações dele com grupos de afiliação islâmica dentro e fora dos EUA.

O pai de Omar, Seddique Mateen, também conhecido

Jun/1973 Em um dos ataques mais famosos a locais frequentad­os pela comunidade LGBT nos EUA, um homem incendiou o bar Upstairs Lounge, em New Orleans, matando 32 pessoas em menos de 20 minutos. Ninguém foi punido ou processado pelo crime.

Fev/1997 Em Atlanta, Eric Robert Rudolph bombardeou a casa noturna lésbica Otherside Lounge. Depois, justificou o crime dizendo que os esforços “para legitimar a prática da homossexua­lidade" eram um atentado contra a “integridad­e da sociedade americana".

Set/2000 Ronald Gay abriu fogo contra o Backstreet Cafe, um bar em Roanoke, na Virginia, matando uma pessoa e ferindo gravemente outras seis. Ele afirmou que estava bravo por seu sobrenome “significar homossexua­l” e Deus teria dito a ele para matar gays. como Mir Seddique, descartou ontem motivos religiosos para a ação e apontou para homofobia. “Isso não tem nada a ver com religião”, disse ele à rede de televisão NBC News.

Mir Seddique afirmou que seu filho ficou transtorna­do, há cerca de dois meses, durante viagem a Miami, quando viu dois homens se beijando. Ele acredita que o episódio possa estar por trás do ataque. “Peço desculpas pelo incidente. Não estávamos consciente­s de que ele estivesse premeditan­do algum tipo de ação. Estamos em estado de choque da mesma forma que todo o país”, disse.

“Ele não era uma pessoa estável”, declarou a ex-mulher d e Mateen a o j o r n a l The Washington Post, sob a condição de anonimato. “Ele me batia. Vinha para casa e começava a me machucar porque eu não tinha lavado as roupas ou coisas assim”, afirmou a mulher, que conheceu o suspeito há oito anos na internet e decidiu se mudar para a Flórida para se casar com ele, em março de 2009.

No início dos poucos meses em que estiveram casados, “ele parecia ser normal” até que se tornou violento. Ela disse que o marido não era muito religioso e ia à academia com frequência fazer exercícios. Segundo a exmulher, ele nunca deu sinais de ter se radicaliza­do e tinha porte de armas pois trabalhava em uma empresa de segurança e como guarda em um centro de delinquent­es juvenis.

A ex-mulher disse que seus pais interviera­m ao saber que Mateen a agrediu. Eles foram para Fort Pierce, onde o casal morava, e a tiraram de casa. Ela disse ainda que não teve mais contato com Mateen, apesar de suas tentativas de se comunicar. O divórcio foi formalizad­o em 2011. O pai do atirador identifica­do pela polícia como o homem por trás da carnificin­a na casa noturna Pulse, de Orlando, é um afegão que mantém fortes opiniões políticas, incluindo o apoio ao Taleban afegão. Em um vídeo postado no sábado na internet, ele parece se portar como se fosse o presidente do Afeganistã­o.

Seddique Mateen, também conhecido como Mir Seddique, apresentou o programa Durand Jirga Show em um canal chamado Payam-e-Afghan, transmitid­o via satélite diretament­e de Los Angeles. Seddique faz consideraç­ões sobre uma variedade de assuntos políticos na língua Dari, falada no Afeganistã­o. Dezenas de vídeos estão postados em um canal no YouTube sob o nome de Seddique Mateen.

Uma caixa postal e um número de telefone que são exibidos no programa foram rastreados e estão registrado­s como sendo da casa de Seddique na Flórida. Ele também foi identifica­do como sendo o responsáve­l por uma organizaçã­o sem fins lucrativos sob o nome Durand Jirga, que está registrado em Port St. Lucie, na Flórida.

Em um dos vídeos, Seddique se mostra grato ao Taleban afe- gão e critica o governo paquistanê­s. “Nossos irmãos no Waziristão e os guerreiros do Taleban estão se levantando. Com a vontade de Deus, a questão da Linha Durand será resolvida”, diz ele em um trecho do vídeo.

A Linha Durand é nome pelo qual ficou conhecida a fronteira entre o Afeganistã­o e o Paquistão. O tema é historicam­ente significat­ivo para os membros do grupo étnico pashtun, que se originou naquela região. Não há confirmaçã­o de que os Mateen sejam pashtun. O Taleban afegão é composto principalm­ente por pashtuns. /

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GERARDO MORA/AFP Resposta. Após massacre, voluntário­s fizeram fila para doar sangue; lei que proíbe doação por gays nos EUA foi criticada
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AFP Violento. Ex-mulher de Mateen relatou agressões
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