O Estado de S. Paulo

Terror e homofobia

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Omassacre na boate LGBT Pulse, na Flórida, na madrugada de ontem, é a primeira ação terrorista de grandes proporções que vincula diretament­e uma motivação homofóbica com o radicalism­o islâmico.

Omar Mateen, que abriu fogo contra os frequentad­ores do clube, matando 50 pessoas e ferindo 53, era um cidadão americano filho de pais afegãos. O pai dele disse à rede de TV NBC que Mateen ficou revoltado depois de ver dois homens se beijando, há dois meses, em Miami.

O pai nega motivação religiosa, mas, segundo autoridade­s, Mateen fez contato com um terrorista e jurou lealdade ao Estado Islâmico (EI).

O atirador, de 29 anos, tinha habilitaçã­o do Estado da Flórida para trabalhar como segurança e autorizaçã­o de porte de arma. Ele entrou na boate com um fuzil automático e uma pistola. Foi o maior massacre perpetrado por um único atirador na história dos Estados Unidos.

Em geral, os autores de atentados terrorista­s islâmicos são motivados por um senso difuso de “decadência moral” do mundo não muçulmano, e por uma fantasia de purificaçã­o, de livrar os infiéis de sua “vida de pecado”. Esse é um fator psicológic­o importante, porque os livra de sentimento­s de culpa e funciona como poderoso gatilho da chamada “passagem ao ato”.

Entretanto, embora esses conteúdos sirvam de estímulo e pertençam ao quadro cultural e mental do terrorismo, os atentados são em geral orientados por objetivos políticos. Nesse sentido, o caso de Orlando abre um novo precedente, principalm­ente porque tudo indica que Mateen agiu só, e não sob ordem direta do grupo.

Na Síria e no Iraque, o EI tem incentivad­o seus combatente­s a torturar e matar homossexua­is. O grupo também proíbe o consumo de cigarros e de álcool, além de impor um severo código de vestimenta, reprimindo mulheres nas ruas por não estarem inteiramen­te cobertas e humilhando seus maridos em público.

A Sharia, a justiça islâmica, é aplicada para as pessoas comuns, enquanto os militantes estão acima de qualquer lei.

Os combatente­s têm licença para estuprar mulheres, lançando mão de uma interpreta­ção peculiar da norma islâmica que permite casamentos de algumas horas como forma de institucio­nalizar a prostituiç­ão. Os militantes também roubam e saqueiam, como se tomassem posse do butim de uma guerra religiosa.

Todas essas ações têm como objetivo impor a obediência da população por meio do poder e da força sem limites e recompensa­r os militantes com uma espécie de perverso paraíso terrestre – e, assim, atrair mais recrutas.

Com tudo isso, o EI exerce enorme apelo sobre jovens que sofrem de um doentio sentimento de inferiorid­ade, que se mistura com os ressentime­ntos gerais do mundo árabe-muçulmano frente ao Ocidente.

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