O Estado de S. Paulo

BRASILEIRO­S RELATAM MEDO NA CIDADE

Frequentad­ores da boate se dizem surpresos com o ataque e falam sobre clima de tensão

- Claudia Müller

Adrag queen paulistana Isabella Rio estava quase pronta para sair quando o marido desistiu da ideia por ter de trabalhar no dia seguinte. Isso salvou os dois de estarem na Pulse, em Orlando, na noite do tiroteio que mataria 50 pessoas. Isabella frequentav­a o local todas as quartas-feiras e esteve lá no sábado anterior. “Eu estou em pânico. Era um lugar a que todo mundo ia, inclusive, tenho uma amiga que dança lá”, afirmou.

Segundo Isabella, a amiga dançarina contou que o atirador chegou por uma das duas entradas da boate, a que dá acesso à pista de dança, e começou a atirar. Em seguida, se escondeu atrás de uma porta na área de fumantes e passou a atirar de lá. Ele também teria jogado uma bomba, que não explodiu. A paulistana acredita que não houve muitos piso- teados porque as pessoas que estavam no outro ambiente conseguira­m fugir.

A boate Pulse é uma das mais frequentad­as de Orlando, cidade costumeira­mente receptiva à comunidade LGBT. “Todo mundo gostava de lá e, como aqui é uma cidade turística, você vê pessoas de todos os lugares”, diz Isabella.

A drag queen conta que a boate não revista os frequentad­ores. “Quando você vai à Disney ou aos estúdios da Universal, tem revista porque tem muita gente e pode ter ataques, mas em uma balada você nunca imagina”, comenta. “Acho que pode mudar daqui para frente, vão pôr a polícia para fazer revista”, acha. Isabella, de 25 anos, mora há quatro na cidade americana.

Na noite do ataque, havia uma festa latina na Pulse, com a presença de uma drag queen de um reality show. “Com certeza estava cheio, porque, quando tem participaç­ão dessas drags, muita gente vai”, contou Isabella. A polícia calculava que cerca de 300 pessoas estavam no local.

Apesar do alvo escolhido por Omar Mateen, a brasileira não acha que o atentado tenha sido motivado apenas por homofobia. “Acho que terrorista­s não veem muito quem eles atacam; então, foi homofobia e terrorismo”, afirma.

Já para o produtor de vídeo Luciano Dias, de 37 anos, o que ocorreu foi homofobia. “Não estou com medo porque não foi terrorismo, foi homofobia, mas estou assustado com a quantidade de mortos e feridos”, afirmou. Segundo ele, a comunidade LGBT da cidade é muito pequena e todos se conhecem. “Ainda não sei nada sobre brasileiro­s, mas um amigo venezuelan­o que trabalha lá levou dois tiros e está no hospital. Um amigo de uma amiga morreu.”

O produtor mora na cidade há dois anos e já foi à boate diversas vezes. “Ainda não caiu a ficha porque nunca achamos que vai acontecer com a gente”.

A Pulse tem três ambientes e o público é, na maioria, jovem, conta Dias. “Nunca soube de nenhum incidente lá”. Ele mesmo afirma acreditar na ideia de “cidade mágica”, termo associado a Orlando, mas o clima ontem era de medo, com muitas viaturas, helicópter­os e tensão.

A carioca Anna Luiza Turque, de 20 anos, também estava assustada com o que ocorreu. Ela largou o emprego de professora de inglês e partiu para Orlando há cinco meses, onde atua como vendedora. “Trabalho em um shopping e acredito que muita gente não saiba ainda o que aconteceu, porque a maioria age naturalmen­te”, relata.

Apesar de sempre tentar combinar com os amigos, a carioca nunca chegou a ir à Pulse, na maioria das vezes por causa do trabalho. “Estou devastada, nunca poderia imaginar que uma coisa dessas aconteceri­a aqui; não existe mais segurança em lugar nenhum do mundo.”

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DOUG CLIFFORD/AP Ruína. Agentes do FBI analisam danos nas paredes da boate Pulse, onde Omar Mateen matou 50 pessoas e feriu 53

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