O Estado de S. Paulo

PMs mudam versão sobre tiro em criança

Eles relataram que disparo foi feito com carro em movimento; ouvidor faz críticas

- Fabiana Cambricoli

Os quatro policiais militares envolvidos na morte de um menino de 10 anos no dia 2, na Vila Andrade, zona sul de São Paulo, mudaram a versão sobre o momento em que atiraram contra a criança, em novo depoimento à polícia.

No dia do registro da ocorrência, os agentes relataram que, após perseguiçã­o, o menino bateu na traseira de um caminhão, o que fez o veículo parar. Neste momento, segundo a primeira versão dos PMs, a criança teria atirado contra os policiais, que revidaram imediatame­nte, matando o garoto.

Em depoimento prestado no Departamen­to de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na sexta-feira passada, no entanto, os policiais afirmaram que o tiro disparado contra o garoto aconteceu antes de o veículo parar. A informação foi dada pelo advogado dos PMs, Marcos Manteiga, ao SPTV, da TV Globo, e confirmada ao Estado pelo ouvidor das polícias, Júlio César Fernandes Neves, que conversou com o advogado dos policiais militares.

“O momento do tiro do policial, quando vocês percebem ali que o carro bate na traseira de um caminhão e a motociclet­a cai, o tiro é antecedent­e à queda da motociclet­a”, afirmou o advogado em entrevista à emissora. “Quando o policial da moto cai e já fica em pé é que ele está fazendo ainda a abordagem, porque ele não sabe ainda se iria ter outra agressão, não há disparo de fogo naquele momento”, completa Manteiga.

Para o ouvidor das polícias, a versão foi alterada pelos PMs porque o depoimento inicial não havia sido comprovado pelo resultado parcial da perícia, que apontou marca de apenas um disparo de arma de fogo no vidro do veículo, vindo no sentido de fora para dentro. “Mudaram a versão porque, daquele jeito, viram que estavam liquidados. Na tese antiga, eles seriam condenados porque não houve tiro naquele instante ( depois da colisão)”, afirmou.

Nova tese. Neves diz acreditar que, com a nova versão, a defesa dos policiais militares vão apostar na tese de que os agentes agiram em legítima defesa do tipo putativa, quando, presumindo uma possível agressão, a pessoa se antecipa e reage.

A reportagem não conseguiu localizar ontem o advogado dos PMs. Procurada pelo Estado, a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública confirmou que os policiais prestaram depoimento no DHPP na sexta-feira, mas não quis divulgar mais detalhes sobre o teor das declaraçõe­s.

Em nota, a pasta afirmou que todas as versões apresentad­as serão analisadas e as testemunha­s do caso, ouvidas. “Provas técnicas estão sendo produzidas por meio de laudos”, informou a secretaria.

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AMAURI NEHN/BRAZIL PHOTO PRESS Carcaça. Grupo invadiu ônibus, roubou R$ 300 e ateou fogo ao veículo; passageiro­s desceram antes e ninguém se feriu

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