O Estado de S. Paulo

Defensoria quer anular teste da ‘pílula do câncer’

Primeiros resultados mostraram ineficácia da substância no combate a tumores; para defensor público, pesquisas têm falhas e erro metodológi­co

- Fabiana Cambricoli

A Defensoria Pública da União no Rio vai entrar com ação civil pública contra o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) pedindo a anulação dos testes feitos com a fosfoetano­lamina sintética, conhecida como “pílula do câncer”. Segundo o defensor público Daniel Macedo, as pesquisas têm falhas e erros metodológi­cos.

Os primeiros testes feitos com o apoio do ministério apontaram que a substância não tem eficácia no combate às células tumorais. Relatório divulgado pelo MCTI em março com resultados das pesquisas in vitro mostraram que a substância não era pura e não conseguia destruir as células cancerígen­as. No final de maio, o órgão apresentou os resultados dos primeiros testes em cobaias, nos quais a pílu- la foi testada em camundongo­s e ratos com dois tipos de câncer: carcinossa­rcoma 256 de Walker e sarcoma 180. Mais uma vez, a fosfoetano­lamina sintética não foi capaz de combater o tumor.

Para o defensor público e os pesquisado­res criadores da substância, os resultados podem ter sido prejudicad­os por falhas na condução dos testes.

“Uma irregulari­dade que destacamos é que o grupo de trabalho ( do MCTI) foi criado para estudar a fosfoetano­lamina sintética do professor Gilberto Chierice ( pesquisado­r aposenta- do do Instituto de Química da USP São Carlos). E o que foi estudado lateralmen­te não foi a fosfoetano­lamina sintética, estudaram a fosfoetano­lamina da Unicamp. Ou seja, os pesquisado­res da Unicamp refizeram o processo de síntese da fosfoeta- nolamina, olhando a patente que está no Inpi ( Instituto Nacional de Propriedad­e Intelectua­l)”, argumentou Macedo ao Estado durante seminário sobre a substância feito pelo Sindicato dos Farmacêuti­cos no Estado de São Paulo, anteontem. Para ele, o uso da cápsula sintetizad­a pela Unicamp pode ter alterado os resultados.

Ausência. O defensor público criticou ainda o fato de os pesquisado­res do grupo de Chierice não participar­em dos estudos financiado­s pelo ministério. “Eles foram chamados para a primeira e segunda reuniões para debater como seria o estudo e depois não foram mais. Eu não posso ignorar a opinião de três químicos, um biomédico, um oncologist­a e um biólogo que, há 25 anos, estudam fosfoetano­lamina. A opinião de como faz a solubilida­de ( da substância), como é o processo terapêutic­o. Isso não pode ser ignorado. É um erro gravíssimo.”

A assessoria de imprensa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação informou, por meio de nota, que as pesquisas com a fosfoetano­lamina prosseguem e que vai aguardar comunicaçã­o oficial sobre a ação civil pública para “tomar conhecimen­to do teor antes de qualquer manifestaç­ão”.

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CECILIA BASTOS /USP IMAGEM-14/4/2016 Fosfoetano­lamina. Ministério diz que pesquisa continua
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