Startups recorrem à ‘vaquinha’ online para atrair múltiplos investidores
Quando a startup brasileira Timokids estava prestes a completar um ano, a cofundadora e presidente executiva Fabiany Lima precisava de dinheiro para colocar em prática os planos da empresa. Ela não queria, porém, recorrer a grandes investidores, pois temia muita interferência no controle da empresa. Por isso, anunciou a startup num site de financiamento coletivo diferente: no lugar de ‘bancar’ um projeto, os investidores compraram pequenas partes da startup, que desenvolve um aplicativo interativo de livros e jogos infantis.
Em três meses, a Timokids levantou R$ 178 mil por meio da plataforma Broota. Com os recursos, a startup lançou versões do aplicativo em dois novos idiomas e também para as plataformas Android e Windows Phone. “Antes da captação o aplicativo tinha apenas seis histórias infantis. Hoje, já são 50”, conta Fabiany.
O modelo de captação de recursos escolhido pela Timokids – conhecido como “equity crowdfunding” – difere de sites populares de financiamento coletivo, porque quem contribui aposta em startups, em geral de tecnologia, na esperança de que elas se tornem grandes empresas. O termo “equity” associado a “crowdfunding” serve para caracterizar o tipo de benefício que a pessoa recebe ao contribuir por meio da campanha: em troca do aporte, ela terá direito a uma participação acionária (equity) na empresa.
“Essa iniciativa tem tentado facilitar o acesso de startups ao capital e fomentar que pessoas invistam seu dinheiro no mercado de capitais”, resume o advogado do escritório Velloza Girotto, Diego Nabarro.
No Brasil, esse sistema de investimento está dando seus primeiros passos. As primeiras duas ofertas ocorreram em 2014, mas o mercado só começou a deslanchar no ano passado, quando 43 empresas receberam autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para emitir títulos. Segundo dados da Associação Brasileira de Equity Crowdfunding, as startups já promoveram cerca de 30 campanhas. Juntas, as transações chegam a R$ 9 milhões.
Ao contrário dos investimentos diretos, que ocorrem sem mediação, os aportes por meio de equity crowdfunding são feitos via sites, como os brasileiros Broota, Start me up e EqSeed. A startup precisa submeter à CVM o tipo de título que vai oferecer e o material que será divulgado na plataforma. As empresas podem captar, no máximo, R$ 2,4 milhões ao ano – na prática, as startups arrecadaram em média R$ 350 mil por campanha, segundo a associação do setor.
Para o presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Amure Pinho, os empreendedores agora têm uma alternativa mais simples aos meios tradicionais de captação de recursos, que incluem fundos de investimento, investidores anjo, empréstimos bancários e programas de incentivo à inovação. “O equity crowdfunding democratiza o acesso ao capital, fragmentando os investimentos”, diz.
Startups em estágio inicial, que estão em busca de capital semente, são as que mais recorrem aos investimentos em plataformas de financiamento coletivo. Nesse modelo, a startup define as condições do contrato com os investidores e a aplica- ção mínima que, em geral, é de R$ 1 mil. “Quando a empresa está fazendo captação com investidor anjo, ela tem de negociar muito mais e, às vezes, sucumbir a determinadas exigências contratuais”, explica Nabarro. “Pelo equity crowdfunding, as pessoas colocam menos dinheiro e estão dispostas a ter menos direitos dentro da startup.”
O investidor não precisa depositar o dinheiro de prontidão, mas se compromete a investir na empresa, caso o processo de captação na plataforma seja bem-sucedido.
Dono não é chefe. A startup Pet Anjo, que reúne serviços voltados para animais de estimação, procurou o equity crowdfunding para arrecadar recursos mais rápido. A campanha,