O Estado de S. Paulo

Discussão sobre gêneros e diversidad­e marca festival

O Vento, realizado em Ilhabela, mostrou uma boa safra da nova MPB. Artistas discursara­m contra Michel Temer

- João Paulo Carvalho /

As quatro noites do Vento Festival, realizado em Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, de quinta, 9, a domingo, 12, foram marcadas pelo conceito de desconstru­ção de gêneros, discursos políticos contra o governo do presidente em exercício Michel Temer e apresentaç­ões triunfante­s de uma nova geração talentosa da música brasileira. Os destaques foram Mahmundi, Liniker, Filipe Catto, Karina Buhr e Johnny Hooker.

Na primeira noite do festival, na quinta, 9, quem brilhou foi a carioca Mahmundi. Por trás da avalanche de sintetizad­ores oitentista­s dos mais variados tons, a cantora mostrou uma voz potente. Soube, com precisão, equilibrar seu show, ora com a guitarra na mão outra concentran­dose em alcançar cada nota vocal de maneira impetuosa.

Na sexta-feira, 10, Liniker, Rico Dalassam e As Bahias e a Cozinha Mineira fizeram uma apresentaç­ão triunfante contra o preconceit­o. A performanc­e coletiva das artistas do projeto Salada das Frutas se destacou não só pela qualidade musical de cada uma das integrante­s, mas tam- bém pela bandeira da diversidad­e levantada em alto e bom som.

Liniker, a primeira a se apresentar, mostrou logo de cara a sua potência vocal. Uma das grandes apostas da música brasileira, a cantora levou sutileza ao público, que lotou as areias da praia de Perequê para assistir sua performanc­e à frente dos Caramelows. Ao final, o rapper Rico Dalasam e As Bahias e a Cozinha Mineira se juntaram à Liniker para uma versão de Olhos Coloridos, de Sandra de Sá.

O vozeirão de gente grande no corpo de menino assustou muita gente que marcou presença no penúltimo dia para assistir à performanc­e do jovem Filipe Catto. O repertório afinado de Filipe foi pautado em seu segundo disco, Tomada, lançado em 2015. A voz do cantor e compositor encantou pela sutileza e, paralelame­nte a isso, sua técnica refinada de alcançar cada nota no momento mais oportuno da apresentaç­ão. Com letras simples e doces, Catto, que fez uma leitura intrínseca de si mesmo, equilibrou MPB e rock.

Karina Buhr, que se apresentou na sequência, fez questão de chocar e desconstru­ir o linear politicame­nte correto. Performáti­ca, a cantora cantou músicas do elogiado Selvática, seu último disco de estúdio. Usando uma blusa preta quase transparen­te, Karina deixou os seios à mostra. “Dilma, querida, quando você voltar, por favor, desmilitar­ize a polícia”, protestou antes de ser acompanhad­a pelo público que gritava “Fora, Temer. Volta, querida”. As canções de Karina promoveram um debate sobre a servidão da mulher e os valores que ainda a rebaixam na sociedade.

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DIVULGAÇÃO Karina Buhr. Show fora dos padrões e da linearidad­e
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