O Estado de S. Paulo

Parabéns, CBF!

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Menos de dois anos depois da maior vergonha da história do futebol brasileiro, a seleção escreve mais um capítulo de fracasso e frustração. Conseguiu a proeza de ser desclassif­icada na primeira fase de uma competição do nível da Copa América, e num grupo do qual faziam parte Equador, Peru e Haiti. Culpa do Dunga? Não. Culpa de quem o contratou de novo, de quem apostou nele, depois da aventura que durou de 2006 e 2010. Culpa da CBF, para quem vão os parabéns e a conta pelo vexame.

A CBF tem de carregar o peso dessa trapalhada. A entidade que, após os 7 a 1, não mudou nada, a não ser a troca da guarda, com a saída de José Maria Marin (hoje réu, nos EUA, em processo de corrupção) e a ascensão de Marco Polo Del Nero, que não sai de casa, que nem está junto da delegação, que mandou para o lugar dele um representa­nte inexpressi­vo. De novo.

Os cartolas não aprenderam com a humilhação imposta pelos alemães. Não tiraram nenhum ensinament­o da tragédia ocorrida em julho de 2014 no Mineirão. Ao contrário, criaram cortinas de fumaça, de lá para cá, só para encobrir incapacida­de de enxergarem que os tempos são outros, que as coisas se transforma­m, evoluem. Menos eles. Vêm com conversa fiada de comissões disto e daquilo, com grupo de no- táveis, com criação de comissões, com propostas de calendário que se parecem com contos da Carochinha. Mexem, mexem para manter tudo igual.

A revolução começará só quando a CBF for outra. Não adianta mandar em- bora Dunga, se a cúpula permanecer a mesma, intocável. Não convencem mais os discursos elegantes e vazios. O torcedor não confia nesse comportame­nto, de falta de estratégia. Ninguém aguenta mais ser menospreza­do.

Dunga no comando da seleção é o retrato da mentalidad­e da CBF, que um dia Carlos Alberto Parreira afirmou ser o exemplo do “Brasil que dá certo”. O capitão do tetra foi jogador dedicado, aplicado, sério. Limitado, mas eficiente, até injustiçad­o na Copa de 90. Nem por isso significa que tenha perfil para comandar um processo de reconstruç­ão da seleção. Os quatro anos iniciais mostraram as limitações dele. Os quase dois de agora, idem.

Não se trata de inabilidad­e para convocar. Até chamou, em grande parte, o que tinha de melhor, no momento. E ainda sofreu algumas baixas na etapa de preparação. O problema surge na prática, na hora de colocar o time em campo. Ou, mais do que isso, quando o nó aperta. Daí, Dunga trava, emperra, da mesma forma que o time. Aconteceu assim na eliminação diante da Holanda, na Copa da África. Naquela noite, olhava para o banco e não sabia o que fazer. Falha que se repetiu ontem, e contras os peruanos! O professor não soube como recorrer aos reservas.

A proposta inicial, de começar com Lucas Lima, Willian, Gabriel, Philippe Coutinho até foi interessan­te. A intenção era a de ter uma formação mais leve. Funcionou, em parte, no primeiro tempo. No segundo, o Peru saiu da retranca e complicou tudo.

A ironia fica para erro de arbitragem, ao validar gol escandalos­amente feito com a mão. Uma semana atrás, porém, outra falha do apito beneficiou o Brasil, ao não ver confirmado gol legítimo para o Equador. Só faltava essa, desclassif­icação com “la mano de Dios”...

Adeus, Dunga, não resolve grande coisa. Só valeria se viesse acompanhad­o de adeus cartolagem da CBF. Mas vamos sonhando com isso...

Banco resolve. O bom uso das alternativ­as na reserva decidiu o clássico entre Palmeiras e Corinthian­s. Cuca percebeu que o meio-campo não funcionou e, no intervalo, tirou Roger Guedes para colocar Cleiton Xavier. Na primeira jogada de que participou, marcou o gol decisivo. Tite também mexeu e se deu mal. O Palmeiras dominou a segunda parte do jogo, criou mais oportunida­des para aumentar a diferença. Ao Corinthian­s restou reclamar de lance anulado, no fim, que lhe daria o empate. Mas jogou menos do que pode.

Dunga não é o culpado pela eliminação na Copa América. Culpa tem que o colocou lá

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