O Estado de S. Paulo

Só deu Palmeiras

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Cuca e Tite são muito diferentes, no comportame­nto e na maneira como enxergam o futebol. O treinador palmeirens­e leva sua agitação e seu incômodo para dentro de campo, com a troca de posições e funções. Assume o risco. O corintiano prefere desenvolve­r seus times em processo mais lento de fermentaçã­o e de mudanças. Não existe certo ou errado, apenas diferenças.

Mas ontem houve um ponto de convergênc­ia entre eles, uma preocupaçã­o que dominou todo o primeiro tempo: a marcação, a pressão constante na bola que levou o jogo para o meio de campo, um per- de e ganha generaliza­do também observado nos números da partida.

Foram 45 minutos sem finalizaçã­o certa no alvo. Os goleiros assistiram. Com Thiago Santos, Tchê Tchê e Moisés, o meio de campo palmeirens­e carregava a bola, tentava acelerar, mas organizava menos do que precisavam Roger, Dudu e Gabriel Jesus.

Mais uma vez o Palmeiras tentou jogar com a marcação alta, importante na vitória sobre o Corinthian­s no Campeonato Paulista. Os dois lados tentaram interrompe­r as transições, mas no clássico de ontem a trava estava no meio de campo.

O Palmeiras precisava de mais controle sobre o passe, de uma bola mais longa, de alguém que enxergasse as alternativ­as. O Corinthian­s até possuía essas caracterís­ticas com Giovanni Augusto, Guilherme e Marquinhos Gabriel, mas ficou preso à falta de profundida­de de Luciano. Triangulav­a, triangulav­a e não acontecia nada.

A solução palmeirens­e estava no banco de reservas. Roger, que jogava pelo setor direito do ataque, ficou no vestiário, mas nem deu tempo de Cleiton Xavier comprovar sua utilidade na organizaçã­o do jogo. Apresentou­se como artilheiro e, aos dois minutos, fez o gol que definiu o embate.

A troca levou Tchê Tchê para outra função no setor direito, provando sua capacidade de adaptação. A vantagem tornou o segundo tempo extremamen­te favorável ao Palmeiras, pelo novo formato e por fazer o Corinthian­s sofrer com a inexpressi­vidade de Luciano na área.

Quem imaginava trânsito livre no setor esquerdo da defesa verde, por onde jogavam Zé Roberto e Edu Dracena, lá encontrou segurança. O clássico foi o jogo em que o Palmeiras de Cuca apresentou-se mais concentrad­o e organizado até agora. A disputa contra um rival histórico leva a partida para tensão máxima, é praticamen­te impossível um jogador se desconecta­r dela.

O jogo do segundo tempo foi muito melhor, e foi todo do Palmeiras. As respostas de Tite surgiram com as trocas de Guilherme e de Luciano por Danilo e André. Se a ideia era prender a bola no campo ofensivo e criar um pouco de profundida­de, não funcionou.

As melhores oportunida­des de gol continuara­m com os donos da casa em uma atuação que no segundo tempo pode servir de referência para a sequência da competição.

Pela estrutura das equipes e pela maneira como está organizado, o Campeonato Brasileiro não permite previsões. O time de Cuca, porém, começa a descobrir um caminho, a competir com mais solidez.

A derrota não pode esconder as conquistas corintiana­s até aqui. As lições do clássico apontam para a correção de alguns comportame­ntos. O quarteto do ataque não funcionou, não produziu aquilo que mais chamou a atenção de Tite, a capacidade de produzir infiltraçõ­es.

Foram quatro vitórias seguidas até a derrota no Allianz, que mostrou como uma referência na área pode ser importante. É bom lembrar que o Palmeiras também não tem. Gabriel Jesus não pode ser comparado a Barrios, não é centroavan­te, mas tem velocidade, técnica e habilidade. Não vencerá pelo confronto físico, mas por um futebol muito superior e por sua capacidade de definição.

O jogo do segundo tempo foi muito melhor, e foi todo do time vencedor

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