O Estado de S. Paulo

Estrangeir­os temem infraestru­tura

Estudiosos de Olimpíada dos EUA se preocupam com obras inaugurada­s sem teste e lembram experiênci­a de Atenas

- Cláudia Trevisan /

David Wallechins­ky e Bill Mallon acompanham os Jogos Olímpicos há mais de duas décadas e estão entre os principais historiado­res dos Jogos em todo o mundo. A poucos meses de viajarem ao Brasil para as competiçõe­s, ambos não estão apreensivo­s com o vírus zika, mas sim com o sistema de transporte­s, a poluição na Baía de Guanabara e o atraso na conclusão de velódromo.

“Como alguém que estará trabalhand­o lá, o que mais me preocupa é a infraestru­tura”, disse Wallechins­ky ao Estado. “A morte de duas pessoas em uma ciclovia atingida por uma onda foi o resultado da conclusão apressada da obra, sem a realização das inspeções de segurança adequadas”, observou, referindo-se à queda da ciclovia Tim Maia, em um dia de ressaca. “Se aquela ponte foi construída dessa maneira, o que podemos dizer das instalaçõe­s olímpicas e do sistema de transporte­s?”

Em sua opinião, o principal problema é o metrô que liga a Zona Sul do Rio à Barra da Tijuca, que deverá estar concluído apenas três dias antes da abertura dos Jogos. O curto prazo não permitirá que sejam realizados os testes necessário­s para sua operação, ressaltou Wallechins­ky. “Mesmo que o metrô esteja pronto, você realmente vai querer entrar nele sem que tenha sido testado?”

Autor da série de referência The Complete Book of the Summer Olympics (O Livro Completo das Olimpíadas de Verão), o historiado­r acompanhou todos os Jogos desde 1988 como comentaris­ta da rádio Westwood-1, retransmit­ida pela NBC. Wallechins­ky disse ter visto de perto o impacto de obras terminadas às pressas durante a Olimpíada de Atenas, em 2004. Quando subia lances de escada para ver a final de pólo aquático feminino ele sentiu que os degraus quebravam sob seus pés. Pessoas ficaram presas no metrô, que também havia sido aberto sem testes, na véspera do evento.

Mallon observou que as previsões catastrofi­stas são um clássico que antecedem todas as Olimpíadas. No fim, a maioria delas não se realiza e os Jogos são realizados sem problemas. “Isso também aconteceu antes da Copa do Mundo de 2014”, lembrou.

Mas ele disse que os problemas com a infraestru­tura de transporte­s, o atraso na conclusão do velódromo e a poluição da Baía de Guanabara são preocupaçõ­es reais. “O ideal seria que o velódromo fosse testado um ano antes de sua utilização”, observou. Se o cronograma anunciado pelo governo for cumprido, a obra só estará pronta no dia 30, cerca de um mês antes do início da Olimpíada.

Médico ortopedist­a, Mallon disse não estar preocupado com a zika porque os Jogos ocorrerão durante o inverno, período de menor atividade do mosquito transmisso­r do vírus. Mas ele ressaltou que é homem, tem mais de 60 anos e não pretende voltar a ser pai.

Autor de livros que registram todos os recordes olímpicos da era moderna, Mallon irá ao Rio como consultor estatístic­o da delegação dos EUA.

A possibilid­ade de atentados terrorista­s durante o evento é considerad­a remota pelo historiado­r. Segundo ele, há um elevado grau de segurança durante os Jogos, fruto de um esforço internacio­nal coordenado dos países que enviam delegações.

Wallechins­ky também não vê no terrorismo uma fonte particular de preocupaçã­o. “A boa notícia é que não há terrorismo internacio­nal no Brasil.” Isso também significa que o país não tem a mesma estrutura de prevenção e combate a ataques que a Inglaterra, por exemplo, um tradiciona­l alvo de atentados. “Ainda assim, a ameaça no Rio não será diferente de outras Olimpíadas.”

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