O Estado de S. Paulo

Maia derrota Centrão com ajuda do Planalto

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Com a ajuda do Palácio do Planalto e da antiga oposição, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi eleito ontem presidente da Câmara para um mandato-tampão até fevereiro de 2017. Com 285 votos no segundo turno, ele derrotou o candidato Rogério Rosso (PSD-DF), do Centrão, grupo formado por 13 partidos e ligado ao deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que renunciou ao cargo na quinta-feira passada. Foram 170 votos para Rosso e cinco em branco. Ao ser anunciado o resultado, deputados gritaram “Fora Cunha”.

O triunfo de Maia represento­u uma vitória dupla do governo interino de Michel Temer. Mais cedo, o Planalto atuou para esvaziar a candidatur­a do dep u t a d o Ma r c e l o C a s t r o (PMDB-PI), que foi ministro da presidente afastada Dilma Rousseff e tentou viabilizar sua candidatur­a tendo como base o PT, PDT e PCdoB, partidos de oposição a Michel Temer. A ação deu certo: Castro ficou em terceiro lugar, com 70 votos.

No segundo turno, a eleição de Maia represento­u o fortalecim­ento e independên­cia da gestão Temer frente ao Centrão ( mais informaçõe­s nesta página).

Além de seu partido, Maia recebeu apoio formal do PSDB, PPS e PSB e representa a volta do antigo PFL ao cargo que o partido ocupou de 1993 a 1997 com Inocêncio de Oliveira e Luís Eduardo Magalhães.

Em seu discurso final, Maia fez aceno tanto para tucanos como para petistas ao citar José Serra e José Genoino. Já Rosso pregou união da base de Temer e abriu mão de parte de seu discurso para dar um abraço em Maia na tribuna.

Após a confirmaçã­o da vitória, o deputado do DEM falou de maneira conciliado­ra. “Temos de pacificar esse plenário, temos de dialogar. A maioria precisa dialogar com a minoria”, disse Maia.

A eleição do presidente da Câmara define uma figura central para os próximos passos do governo. Além de ser o primeiro na linha sucessória de Temer, o substituto de Cunha terá poder para acelerar ou atrapalhar o processo de cassação do peemedebis­ta e as votações de projetos importante­s para o ajuste fiscal do governo. Além disso, pode de-

cidir sobre a abertura ou não de processo de impeachmen­t contra Temer, que tramita na Casa.

Negociaçõe­s. Na virada do primeiro para o segundo turno, os dois finalistas tiveram uma hora para somar votos. Nesse período, houve muita correria pelos corredores da Casa em busca de apoio principalm­ente dos partidos que tiveram candidatos no primeiro turno. Logo após divulgado o resultado do primeiro turno, Castro declarou apoio à candidatur­a de Rosso. Na mesma linha foi o deputado Carlos Manato (SDES) que recebeu 10 votos na disputa pelo comando da Câmara.

Rosso partiu em um corpo a corpo em busca de apoio de outros partidos do Centrão. Nas conversas contou apenas com declaraçõe­s de voto do líder do PP,

Aguinaldo Ribeiro. No mesmo momento em que Ribeiro anunciava seu apoio, parte da bancada do PP se reunia com Maia.

A antiga oposição concentrou-se primeiro em consolidar votos no PT, PCdoB, PDT e conseguiu amarrar esses apoios. Maia e seus aliados passaram então a focar na difusa bancada peemedebis­ta e nos “dissidente­s” do Centrão. O PMDB optou por ficar oficialmen­te neutro.

Interferên­cia. Durante o dia, o governo trabalhou para fortalecer os dois principais grupos da base. Tentou unificar o Centrão em torno de Rosso e ajudar a candidatur­a de Maia. No primeiro turno, foram 13 candidatur­as. Apesar do discurso oficial de que não iria interferir, Temer incumbiu os ministros da

Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, além do secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimen­tos, Moreira Franco (sogro de Maia), de negociar com os deputados.

Em conversas reservadas, parlamenta­res afirmam que até promessas de nomeação para o Ministério do Turismo – antiga reivindica­ção do PMDB de Minas – e para cargos em diretorias de empresas do setor elétrico, como Furnas e Chesf, teriam entrado na lista de ofertas.

Temer ligou para Maia. O presidente em exercício deverá receber o novo presidente da Câmara hoje no Palácio do Planalto.

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ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO Vitória. Rodrigo Maia comemora resultado; deputado do DEM foi eleito presidente da Câmara no 2º turno, com 285 votos
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