O Estado de S. Paulo

Maranhão se despede e admite que cometeu erros

Deputado encerra seu período de 69 dias como presidente interino da mesma forma que começou, com recuos, e diz não ter ‘mágoas’

- Julia Lindner / Valmar Hupsel Filho

Após 69 dias como interino na presidênci­a da Câmara, o deputado Waldir Maranhão (PR-MA) encerrou ontem sua gestão da mesma forma que começou: com recuos. Apesar de afirmar em seu discurso que sua atuação “mudou os rumos do País”, o deputado maranhense ficará na história por sua imprevisib­ilidade e pelo constrangi­mento de não conseguir exercer, na prática, a função que lhe caiu no colo após o afastament­o do titular, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

“Nestes poucos meses, aprendi anos. Acertei e errei como qualquer um, mas não vou aqui ficar lamentando o passado. Tenho certeza de que algumas decisões vão mudar o País para melhor. O resto é página virada”, disse Maranhão.

A imprevisib­ilidade que marcou sua gestão foi notada logo após ser empossado no cargo, no início de maio. Seu primeiro ato foi revogar as sessões em que os deputados decidiram pela abertura do processo de impeachmen­t de Dilma Rousseff. Pressionad­o, revogou a própria revogação no fim do mesmo dia. Com isso, conseguiu o feito de unir a maioria dos parlamenta­res contra si mesmo.

Enquanto esteve à frente da presidênci­a, Maranhão assinou 31 atos, a maioria deles referentes a trâmites internos da Casa. Também usou o cargo para fazer afagos, ora à presidente afastada, ora ao presidente em exercício Michel Temer, ora a Cunha, ora aos seus pares.

Na prática, também não conseguiu presidir as sessões na Câmara, função que deixou para outros integrante­s da Mesa Diretora da Casa. Em uma das ocasiões, saiu da cadeira de presidente aos gritos de “fora, fora”.

Despedida. Em seu último dia no cargo, manteve o hábito de voltar atrás em decisões e alterou duas vezes o horário da sessão para deputados elegerem o novo presidente.

Prevista para as 16 horas, a sessão foi adiada para as 19 horas no meio da tarde e, minutos depois, para as 17h30. Apesar de não ter apresentad­o nenhuma justificat­iva para a alteração, as medidas foram tomadas após receber parlamenta­res contra e a favor de Cunha, que tinha seu recurso analisado pela Comissão de Constituiç­ão e Justiça ao mesmo tempo. “Deixo esta presidênci­a sem mágoas e rancores e com a consciênci­a limpa e tranquila”, afirmou Maranhão no último discurso como presidente interino.

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DIDA SAMPAIO /ESTADÃO Discurso. Maranhão diz que deixa o posto ‘sem mágoas’

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