O Estado de S. Paulo

‘FANTASMA’ DE CUNHA DOMINA A CAMPANHA

Antes da votação, favoritos na disputa tentam desvincula­r imagem da do deputado afastado

- Leonencio Nossa Daiene Cardoso /

Proibido pela Justiça de entrar no plenário, o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) acompanhou ontem de casa a escolha do seu sucessor no comando da Câmara se transforma­r num plebiscito sobre seu destino. Nas horas que antecedera­m a votação, os deputados Rodrigo Maia (DEMRJ) e Rogério Rosso (PSDDF) eram citados nos discursos e conversas como coadjuvant­es. O personagem oculto e principal era Cunha, que trava uma batalha para não ser cassado no Conselho de Ética.

Maia e Rosso nunca esconderam sua relação próxima ao peemedebis­ta. O candidato do DEM, porém, quis deslocar sua imagem nos últimos meses à do ex-presidente da Câmara, apesar de Maia já ter se beneficiad­o da relação que mantinha com Cunha. O deputado do DEM chegou a ser presidente da Comissão Especial da reforma política e, quando o então presidente da Câmara destituiu o deputado Marcelo Castro da relatoria do projeto, no- meou Maia relator de plenário. O abalo na relação veio com a indicação de André Moura (PSC-SE) por Cunha para a liderança do governo na Câmara.

Rosso, por sua vez, assumiu o posto de herdeiro de Cunha.

Mensagens. Enquanto a votação não começava, Cunha mandava mensagens por WhatsApp e telefonava pedindo votos para Rosso, segundo parlamenta­res. A cada deputado, ele lembrava os agrados e benesses concedidos durante sua presidênci­a. Ele insistia que o deputado do PSD era o único comprometi- do em salvá-lo da cassação. Cunha alardeava que também tinha conseguido apoio do PRB, de Celso Russomanno.

O pior dos cenários para ele, na avaliação de um deputado de seu grupo, era ver Maia e Marcelo Castro (PMDB-PI) no segundo turno, o que não ocorreu.

Do baixo clero e próximo de evangélico­s, Rosso recebeu aval do Planalto para sair candidato à presidênci­a da Câmara. O governo, porém, não conseguiu disfarçar que o melhor seria a derrota de Rosso e, consequent­emente, o fim da supremacia de Cunha. Michel Temer e ministros da área política não se esforçaram para assegurar a candidatur­a de Rosso, mas tomaram cuidado para não irritar o padrinho dele.

Cunha ainda tem poder sobre colegiados da Câmara. Ele elegeu os presidente­s das comissões Mista de Orçamento, Arthur Lira (PP-AL), e Constituiç­ão e Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-PR), e o líder do governo na Casa, André Moura (PSC-SE). “O fantasma Eduardo Cunha seguirá sondando isso aqui por muito tempo”, disse a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) na tribuna.

Quando os deputados começaram a acompanhar no plenário os discursos dos candidatos à presidênci­a da Câmara, por volta das 18 horas de ontem, as modelos contratada­s para distribuir panfletos e santinhos entravam nas vans de suas agências e se despediam do trabalho. Quem também deixava um dos corredores da Casa era o boneco holográfic­o montado pela assessoria de Gilberto Nascimento (PSCSP), que usou a tecnologia para divulgar sua candidatur­a.

Até o último momento, os deputados Carlos Gaguim (PTN-TO), Cristiane Brasil (PTB-RJ) e Luiza Erundina (PSOL-SP) faziam boca de urna no Salão Verde da Câmara, ao lado do plenário.

Na disputa do segundo turno, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Rogério Rosso (PSD-DF) fizeram discursos na tribuna, arrancando apenas aplausos contidos de parte dos parlamenta­res.

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ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO Decisão. Candidatos à presidênci­a da Câmara se revezaram em discursos na tribuna para pedir votos aos colegas; horário do início da votação foi alterado duas vezes ao longo do dia

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