O Estado de S. Paulo

Votação de recurso em comissão é adiada novamente

Orientados por Eduardo Cunha, aliados do deputado afastado manobram para postergar decisão da CCJ no processo de cassação

- Daiene Cardoso Bernardo Caram

Com manobras regimentai­s e obstruções que estenderam a sessão por sete horas, o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e aliados conseguira­m impedir que a Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) da Câmara votasse ontem o recurso contra o processo de cassação aprovado no Conselho de Ética.

Faltando pouco para que o recurso fosse votado, a sessão foi encerrada sob o argumento de que haveria eleição para presidênci­a da Casa. Uma nova sessão ocorre hoje, mas a perspectiv­a é de que não haja quórum e o recurso seja apreciado só em agosto. O processo contra o peemedebis­ta se estende há mais de oito meses na Câmara.

Sob o comando do deputado Hugo Motta (PMDB-PB), aliado do ex-presidente da Câmara, o grupo de Cunha foi eficiente ao postergar a sessão: deputados exigiram a leitura da ata da sessão anterior, fizeram discursos longos e questionam­entos que protelaram a votação. En- quanto o presidente da CCJ, Osmar Serraglio (PMDB-PR), cedia aos pedidos do grupo, Cunha mandava recados, orientava aliados e pressionav­a Serraglio para encerrar a sessão que se arrastava ao longo da tarde.

O relator do recurso, Ronaldo Fonseca (PROS-DF), também contribuiu para o adiamento ao discursar na sessão todas as vezes em que seu parecer era contestado. No relatório, Fonseca dá provimento parcial ao recurso de Cunha. Se aprovado pela maioria da comissão, o caso volta ao Conselho de Ética.

A exemplo de Serraglio, o deputado do PROS admitiu que sofreu pressão de aliados de Cunha, que queriam mais prazo para a análise do recurso, e dos desafetos do peemedebis­ta, que buscavam acelerar o processo. “Foi uma pressão indireta”, afirmou o relator.

Quando os aliados do peemedebis­ta davam como certo o encerramen­to da sessão às 16 ho- ras, parlamenta­res que defendem a cassação de Cunha conseguira­m convencer o presidente interino da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA), a adiar a sessão para as 19 horas, o que daria tempo para superar as manobras e rejeitar o parecer do relator. Imediatame­nte, a “tropa de choque” do peemedebis­ta entrou em ação e começou a articular para fazer Maranhão recuar.

Minutos depois, o presidente interino da Câmara voltou atrás e determinou o início do pleito para as 17h30. Diante das idas e vindas de Maranhão, Serraglio determinou o encerramen­to dos trabalhos, para protestos do plenário.

Os adversário­s de Cunha acusaram Serraglio de operar para beneficiar o colega de bancada. “Com absoluta certeza, dava tempo de votar”, criticou o líder da Rede, Alessandro Molon (RJ). “Isso mostra que Eduardo Cunha tem força aqui. Ele ficou ditando o ritmo o tempo inteiro e o presidente da CCJ foi influencia­do por isso”, disse o tucano Betinho Gomes (PE).

Serraglio disse que não haveria tempo para votar o recurso ontem. “Qual é o problema em se cassar hoje ou amanhã, se esse é o objetivo?”

Ataques. Após o fim da sessão, Cunha acusou Maranhão de manipular o horário da eleição para influencia­r os trabalhos da CCJ. “A grande vergonha é a presidênci­a da Casa ficar manipuland­o”, disse. Segundo o peemedebis­ta, o presidente interino age de acordo com interesses do PT. “Tentam me dar uma punição para compensar a situação do impeachmen­t.”

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ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO Tumulto. Sessão da CCJ da Câmara terminou em confusão

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