May assume governo da Grã-Bretanha e instala líder do Brexit na chancelaria
Líder conservadora nomeia apenas uma mulher para o primeiro escalão e dá ao ex-prefeito de Londres Boris Johnson – um dos principais defensores da saída do país da UE – o importante cargo de secretário das Relações Exteriores
Horas depois de se tornar a segunda mulher a chefiar o governo britânico, a líder do Partido Conservador, Theresa May, de 59 anos, anunciou a nomeação de duas figuras de proa da campanha contra a União Europeia, Boris Johnson e David Davis, para os postos-chave de secretário das Relações Exteriores e de secretário do Brexit.
A posse de May ocorreu numa cerimônia formal com a rainha Elizabeth II, no Palácio de Buckingham. Pouco antes, o também conservador David Cameron, que estava no poder desde 2010, apresentou oficialmente sua demissão. As cerimônias de sucessão incluíram uma última sessão de questões ao premiê demissionário no Parlamento, em Westminster, pela manhã, e a seguir a visita ao Palá- cio de Buckingham, onde Cameron entregou o cargo à rainha Elizabeth II.
No início da noite, a formação do governo de May foi anunciada, e incluiu várias surpresas. A primeira delas foi a nomeação de apenas uma mulher para o primeiro escalão, quando se esperava um número recorde de presença feminina.
Mas a maior surpresa foi o retorno à cena de Boris Johnson, ex-prefeito de Londres que havia liderado a campanha do Brexit, pela saída do país da UE. Acuado por vaias e pela traição de parte de seus aliados, Johnson, que chegou a ser considerado favorito para substituir Cameron, retirou-se da disputa pela liderança do Partido Conservador. Para muitos analistas, tratava-se de uma retirada da vida pública, mas seu retorno se deu menos de duas semanas depois, com a nomeação ao cargo de secretário das Relações Exteriores. A escolha é ainda mais inesperada porque Johnson é considerado truculento e jamais primou pela diplomacia no trato com outros países.
Mas Johnson não comandará as negociações para o “divórcio” com a UE. Para a secretaria do Brexit, criada para tratar das negociações entre Londres e Bruxelas, o nome escolhido foi o do “eurocético” David Davis, ex-se- cretário de Estado para a Europa no governo de John Major, entre 1990 e 1997. Assim, dois líderes da campanha pelo Brexit assumem a política externa do governo de May, que era contra o rompimento com a UE.
Apesar das nomeações, a primeira-ministra não fixou data para a saída, mas reiterou que o Brexit ocorrerá. “Agora que deixaremos a UE, nós vamos construir um novo papel audacioso e positivo no mundo”, afirmou, na primeira declaração no cargo.
Outra questão-chave será impedir o desmembramento do próprio Reino Unido, ameaçado por movimentos independentistas. “Acreditamos na união, no vínculo precioso entre Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte”, afirmou, prometendo lutar contra a desigualdade e por um país que não funcione “apenas para alguns privilegiados, mas para todo mundo”.
Apesar da mudança de governo, um ocupante da residência oficial, no número 10 da Downing Street, manteve o cargo: o gato Larry, que tem o título de Grão-Caçador de Ratos do Gabinete Oficial. “Mesmo com a saída de David Cameron, o gato Larry continuará na residência oficial”, confirmou um portavoz do governo. Larry foi adotado pelo premiê que deixou o poder ontem. Cameron o tirou de um abrigo de animais em 2011 para que ele ajudasse a resolver um crônico problema com ratos. “Infelizmente não posso levá-lo comigo. Ele pertence à residência oficial e todos os funcionários de lá – assim como eu – o amam”, declarou Cameron.