O Estado de S. Paulo

May assume governo da Grã-Bretanha e instala líder do Brexit na chancelari­a

Líder conservado­ra nomeia apenas uma mulher para o primeiro escalão e dá ao ex-prefeito de Londres Boris Johnson – um dos principais defensores da saída do país da UE – o importante cargo de secretário das Relações Exteriores

- Andrei Netto

Horas depois de se tornar a segunda mulher a chefiar o governo britânico, a líder do Partido Conservado­r, Theresa May, de 59 anos, anunciou a nomeação de duas figuras de proa da campanha contra a União Europeia, Boris Johnson e David Davis, para os postos-chave de secretário das Relações Exteriores e de secretário do Brexit.

A posse de May ocorreu numa cerimônia formal com a rainha Elizabeth II, no Palácio de Buckingham. Pouco antes, o também conservado­r David Cameron, que estava no poder desde 2010, apresentou oficialmen­te sua demissão. As cerimônias de sucessão incluíram uma última sessão de questões ao premiê demissioná­rio no Parlamento, em Westminste­r, pela manhã, e a seguir a visita ao Palá- cio de Buckingham, onde Cameron entregou o cargo à rainha Elizabeth II.

No início da noite, a formação do governo de May foi anunciada, e incluiu várias surpresas. A primeira delas foi a nomeação de apenas uma mulher para o primeiro escalão, quando se esperava um número recorde de presença feminina.

Mas a maior surpresa foi o retorno à cena de Boris Johnson, ex-prefeito de Londres que havia liderado a campanha do Brexit, pela saída do país da UE. Acuado por vaias e pela traição de parte de seus aliados, Johnson, que chegou a ser considerad­o favorito para substituir Cameron, retirou-se da disputa pela liderança do Partido Conservado­r. Para muitos analistas, tratava-se de uma retirada da vida pública, mas seu retorno se deu menos de duas semanas depois, com a nomeação ao cargo de secretário das Relações Exteriores. A escolha é ainda mais inesperada porque Johnson é considerad­o truculento e jamais primou pela diplomacia no trato com outros países.

Mas Johnson não comandará as negociaçõe­s para o “divórcio” com a UE. Para a secretaria do Brexit, criada para tratar das negociaçõe­s entre Londres e Bruxelas, o nome escolhido foi o do “eurocético” David Davis, ex-se- cretário de Estado para a Europa no governo de John Major, entre 1990 e 1997. Assim, dois líderes da campanha pelo Brexit assumem a política externa do governo de May, que era contra o rompimento com a UE.

Apesar das nomeações, a primeira-ministra não fixou data para a saída, mas reiterou que o Brexit ocorrerá. “Agora que deixaremos a UE, nós vamos construir um novo papel audacioso e positivo no mundo”, afirmou, na primeira declaração no cargo.

Outra questão-chave será impedir o desmembram­ento do próprio Reino Unido, ameaçado por movimentos independen­tistas. “Acreditamo­s na união, no vínculo precioso entre Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte”, afirmou, prometendo lutar contra a desigualda­de e por um país que não funcione “apenas para alguns privilegia­dos, mas para todo mundo”.

Apesar da mudança de governo, um ocupante da residência oficial, no número 10 da Downing Street, manteve o cargo: o gato Larry, que tem o título de Grão-Caçador de Ratos do Gabinete Oficial. “Mesmo com a saída de David Cameron, o gato Larry continuará na residência oficial”, confirmou um portavoz do governo. Larry foi adotado pelo premiê que deixou o poder ontem. Cameron o tirou de um abrigo de animais em 2011 para que ele ajudasse a resolver um crônico problema com ratos. “Infelizmen­te não posso levá-lo comigo. Ele pertence à residência oficial e todos os funcionári­os de lá – assim como eu – o amam”, declarou Cameron.

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DOMINIC LIPINSK/REUTERS Aprovação. Theresa May, nova premiê, com a rainha Elizabeth II no Palácio de Buckingham
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