O Estado de S. Paulo

Maduro põe militares para vigiar portos

Governo venezuelan­o justifica medida como parte de esforço para combater a escassez

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O governo da Venezuela anunciou na madrugada de ontem a ampliação dos poderes do Exército no combate a escassez de alimentos e ao contraband­o. Os cinco principais portos do país serão administra­dos por militares. A chamada “Missão Abastecime­nto Soberano” será comandada pelo ministro da Defesa Vladimir Padrino.

Para reorganiza­r a distribuiç­ão de alimentos, insumos e remédios – cronicamen­te em falta no país desde 2013 –, Maduro decidiu nomear uma autoridade única para cada um desses cinco portos. Ele designou o general Efraín Velasco Lugo como presidente da estatal Bolivarian­a de Portos, entidade que administra as instalaçõe­s de carga marítima do país.

Segundo Maduro, Velasco será responsáve­l pela fiscalizaç­ão da chegada de matérias-primas para empresas, armazename­nto e distribuiç­ão. “Isso aqui está um caos e favorece a corrupção”, disse o presidente enquanto fiscalizav­a um armazém em um porto da costa caribenha.

“Se estão desviando produtos, vamos tomar medidas bastante severas. São as nossas instruções”, disse Padrino. “Estamos verificand­o inventário­s e maquinário­s.”

Esse plano foi ativado no âmbito de um decreto de estado de exceção determinad­o pelo Judiciário venezuelan­o e prorrogado em 13 de maio. O decreto concede amplos poderes a Nicolás Maduro.

Aperto. A situação na Venezuela se agravou na véspera com a decisão do Citibank – responsáve­l pelo pagamento das contas do país no exterior – de fechar a conta usada pelo Banco Central venezuelan­o para fazer seus pagamentos internacio­nais.

Por intermédio do Citibank, a Venezuela paga todas as suas contas nos Estados Unidos e no mundo, e a medida põe o país em grandes dificuldad­es, já que, agora, precisará buscar outro banco para evitar ficar à margem do sistema financeiro internacio­nal.

A decisão do Citibank se segue aos anúncios já feitos de fechamento­s, ou cortes de operações, de empresas na Venezuela, como Coca-Cola, os grupos americanos Kraft Heinz e Clorox, ou as companhias aéreas Lufthansa, Aeroméxico, ou American Airlines. Estatizaçã­o. Cumprindo a ameaça de intervir nas empresas que paralisare­m suas operações, o governo assumiu o controle na véspera da fábrica da empresa americana de produtos de higiene pessoal Kimberly-Clark, entregando-a aos trabalhado­res. A companhia havia suspendido suas operações por causa da “deterioraç­ão” da economia venezuelan­a.

O país com as maiores reservas de petróleo do mundo sofre uma grave crise pela queda dos preços do petróleo, com uma escassez que chega a 80% de alimentos e remédios, além de uma inflação de 180% em 2015. A projeção para 2016 do Fundo Monetário Internacio­nal é que chegue a 720%.

Analistas críticos do governo e da oposição afirmam que a crise é resultado do modelo estatizant­e e do regime de controle cambial em vigor desde 2003. Maduro rebate as acusações, dizendo-se vítima de uma “guerra econômica” que tenta provocar o mal-estar da população para derrubá-lo. Há anos, o governo venezuelan­o atribui as dificuldad­es a um plano da oposição para derrotar a “revolução bolivarian­a”.

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AFP Apoio militar. Maduro (D) e o ministro da Defesa, Vladimir Padrino: esforço contra escassez
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