O Estado de S. Paulo

Grupo propõe nova Ceagesp por R$ 5 bi

Projeto é de comerciant­es e produtores; Prefeitura ficaria com 40% do terreno atual, mas presidente da companhia é contrário à mudança

- Luiz Fernando Toledo

A Prefeitura de São Paulo recebeu proposta ontem de produtores e comerciant­es para a criação de uma alternativ­a à Companhia de Entreposto­s e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), do governo federal, localizada hoje na Vila Leopoldina, zona oeste. O novo armazém, sob administra­ção privada, ficaria em um terreno particular de 4 milhões de m² em Perus, na zona norte da capital, com investimen­to de R$ 5 bilhões.

A busca por um novo espaço para as atividades da Ceagesp vinha sendo feita desde o ano passado, após convênio firmado entre o governo federal e a Prefeitura. O entendimen­to é que o equipament­o provoca grande congestion­amento na região – são pelo menos 14 mil veículos trafegando diariament­e –, além de poluição.

A proposta da gestão municipal é que seja feito um novo planejamen­to de urbanizaçã­o para a Vila Leopoldina, com empreendim­entos imobiliári­os, áreas de habitação de interesse social e instalação de equipament­os públicos, como creches, postos de saúde e praças. Segundo o prefeito Fernando Haddad (PT), as alterações podem trazer 30 mil empregos para a região e movimentar R$ 10 bilhões em investimen­tos.

O projeto depende, no entanto, do aval do governo federal. Após a substituiç­ão da senadora Kátia Abreu (PMDB) por Blai- ro Maggi à frente da Agricultur­a, ainda não há definição sobre se o projeto será mantido. O novo presidente da Ceagesp, Antonio Carlos do Amaral Filho, ligado ao PP, partido da base aliada do presidente em exercício, Michel Temer, já se diz contrário à medida. Ele quer que o novo armazém seja uma expansão da área atual, não uma substituiç­ão. “Nosso espaço é de 700 mil m², mas a Ceagesp deveria ocupar uma área da ordem, talvez, de 2 milhões de m². Temos de expandir”, disse.

Se não houver acordo entre as partes, há a possibilid­ade de a cidade ficar com os dois entreposto­s simultanea­mente, hipótese que a Prefeitura tenta evitar. “Ao Município é desejável que a atividade vá para outro lo- cal, preferenci­almente na cidade”, disse ao Estado o diretor de Desenvolvi­mento da SP Urbanismo, Gustavo Partesani.

Projeto. A primeira proposta de um novo espaço feita pelo Novo Entreposto de São Paulo (Nesp) – grupo formado por 25 produtores e comerciant­es que hoje atuam na Ceagesp – deverá passar por análise nos próxi-

Perus mos quatro meses. Neste período, outras empresas poderão apresentar projetos e haverá, segundo a Prefeitura, realização de audiências públicas. O espaço poderá ser criado mesmo sem o aval do governo federal. Dessa forma, a capital ficaria com dois entreposto­s.

Haddad defendeu a mudança e disse que o projeto “dialoga” com os interesses da cidade. Com o empreendim­ento, a Prefeitura terá direito a ficar com 40% do terreno. “Vai significar creche, parque, posto de saúde. Também garantirem­os a recuperaçã­o de parte da vegetação.”

Para a arquiteta, urbanista e professora da Universida­de de São Paulo (USP) Maria Lucia Refinetti Martins, o interesse pela mudança da Ceagesp é principalm­ente econômico. “O que segurament­e vem nessa discussão, que está aí há muito tempo, é que a área está valorizada demais para esse tipo de uso. O problema não é o caminhão na região. Do ponto de vista do funcioname­nto da Ceagesp, está tudo muito bem. A questão central é outra”, disse.

Segundo Maria Lucia, qualquer mudança na região demandará um novo projeto urbanístic­o que privilegie o local. “Você pode ter uma perspectiv­a de ser uma área que tenha mais habitação popular, mais área pública. Mas os grandes projetos que acabamos vendo são de reproduzir imóveis de alto valor e de usar a lógica de quem pagar mais, leva. Não é exatamente o que esperamos para a cidade.”

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